Todo ano, alguns jogadores de contrato two-way acabam ganhando minutos significativos da NBA e, muitas vezes, conseguindo um contrato regular no time. Em geral, são caras que já estão entrando e saindo da G League há um tempo, que chegaram a jogar na NBA, mas por algum motivo não se firmaram. O fato é que o contexto importa muito: estar num time em que o técnico tem uma rotação curta ou em que não há minutos disponíveis pode acabar significando passar 20, 30 jogos entrando no garbage time e sendo dispensado ao fim da temporada.
Ainda assim, esses guerreiros vão à luta e não desistem do sonho de jogar na NBA. E, na verdade, muitos conseguem. Há vários jogadores na NBA atual que já passaram por um contrato two-way, a exemplo de Austin Reaves, Alex Caruso, Naz Reid e Lu Dort, só para citar alguns.
Estar preparado é fundamental, mas estar no lugar e na hora certa também tem um peso enorme no destino desses caras. Então, vamos analisar o perfil e a situação alguns dos que podem ter chance nesta temporada, mas não sem antes trazer algumas menções honrosas: Liam Robbins (Bucks), Jordan Miller (Clippers), Alondes Williams (Pistons), Adama Sanogo (Bulls).
10. Trey Jemison (pivô, 24 anos, New Orleans Pelicans)
Temporada passada:
Memphis Grizzlies: 23 jogos (médias: 25 min | 7,4 pts | 5,8 rebs | 1,2 toco)
Birmingham Squadron: 23 jogos (médias: 31 min | 10,7 pts | 11,3 rebs | 1,5 toco)
Quem é esse cara?
Prestes a completar 25 anos, Jemison ganhou espaço no combalido Memphis ano passado após um contrato de 10 dias que acabou sendo convertido em two-way. Com a chegada de Zach Edey e a volta de lesão de Brandon Clarke, mais um pivô de garrafão não era o que o Grizzlies precisava, daí que faz sentido a decisão em não renovar com ele (e a contratação de Jay Huff, um tipo diferente de pivô, como veremos mais abaixo). Forte e com 2,11 metros, ele faz bem o papel de pivô tradicional, especialmente na defesa. Ofensivamente, é apenas mediano, mas também não compromete.
Por que ficar de olho?
Dizer que a rotação de pivô do Pelicans está em aberto seria um eufemismo: depois da saída de Jonas Valančiūnas, o elenco só tem de veterano Daniel Theis, que nem de longe é um titular absoluto para os padrões da liga. Os outros são o calouro belga Yves Missi (21ª escolha do Draft 2024) e o croata Karlo Matković (52ª escolha do Draft 2022), que veio da Liga Adriática em 2023 — ambos com zero jogos na NBA até a temporada 2024/25 começar. Nesse cenário, alguém com um pouco mais de experiência como Trey Jemison, que chegou a ser titular 14 vezes, pode ganhar espaço.
9. Josh Christopher (ala, 22 anos, Miami Heat)
Temporada passada:
Salt Lake City Stars: 17 jogos (médias: 29 min | 18,4 pts | 4,9 rebs | 6,2 asts)
Sioux Falls Skyforce: 18 jogos (médias: 27 min | 15,8 pts | 4,2 rebs | 2,7 asts)
Quem é esse cara?
Escolhido pelo Houston no Draft 2021, com apenas 19 anos, Christopher mostrou certa qualidade nas primeiras duas temporadas, chegando a ter um jogo de 30 pontos, mas perdeu espaço em 2023. Com a virada de chave no Rockets, entrou na troca por Dillon Brooks e acabou dispensado pelo Memphis. Passou a temporada 2023-24 na G-League. Atlético, ele é capaz de defender com tenacidade e oferecer um impulso ofensivo criando o próprio arremesso. Tipo de jogador que pode esquentar rápido.
Por que ficar de olho?
Christopher ainda não completou 23 anos e vai atuar na ala de um time que costuma lidar com lesões e sempre precisa de um reforço no ataque. Na última partida da pré-temporada, Josh mostrou toda a sua versatilidade anotando 17 pontos (2/4 3pt), 4 assistências, 4 roubos e 3 rebotes em apenas 22 minutos. Outro ponto que favorece o rapaz é que o Heat é conhecido por dar muitos minutos a jogadores jovens e/ou da G-League. Pode ser a chance que Josh precisa.
8. Drew Peterson (ala, 24 anos, Boston Celtics)
Temporada passada:
Sioux Falls Skyforce: 13 jogos (médias: 34 min | 15,2 pts | 5,5 rebs | 4,2 asts | 40,7% 3pt)
Maine Celtics: 38 jogos (médias: 34 min | 15,7 pts | 7,0 rebs | 5,5 asts | 36,4% 3pt)
Quem é esse cara?
Peterson passou batido no Draft 2023. Conseguiu virar two-way do Heat, mas nunca vestiu a camisa do Miami, jogando apenas na G-League, onde ganhou algum destaque pelo arremesso de 3 pontos e a qualidade geral nos fundamentos (controle de bola, passes, rebotes). Chegou a vestir a camisa do Boston em 3 partidas na NBA, mas apenas no garbage time. Na pré-temporada, teve médias de 13 pts/jogo em 16 min/jogo, chutando muito bem do perímetro.
Por que ficar de olho?
Após a campanha sólida na G-League e a boa pré-temporada 2024/25, Peterson parece capaz de contribuir no nível da NBA. Embora o Celtics não seja conhecido por dar muito espaço a jovens, calouros e jogadores do fundo do banco, o perfil dele — alto, chutador, relativamente versátil e com jeitão de Mike Dunleavy Jr. — pode render minutos como um ala mais alto e capaz de espaçar a quadra num elenco cheio de pivôs que não chutam de fora (Queta, Tillman, Kornet).
7. Jared Butler (armador, 24 anos, Washington Wizards)
Temporada passada:
Capital City Go-Go: 16 jogos (médias: 32 min | 17,8 pts | 7,1 asts | 1,4 roubo)
Washington Wizards: 40 jogos (médias: 14 min | 6,3 pts | 3,2 asts | 0,7 roubo)
Quem é esse cara?
Butler entrou com 21 anos na NBA, draftado em 40º lugar pelo Pelicans, mas trocado para o Jazz. Jogou 42 jogos na primeira temporada, mas sem muitos minutos em quadra. Passou pelo OKC em 2022-23 e chegou ao Washington ano passado. Armador relativamente competente, Butler conseguiu algum espaço na reconstrução do Wizards, chegando a ter um contrato regular. Com a chegada de três jogadores draftados e mais outros reforços, acabou cortado na pré-temporada, mas imediatamente reintegrado ao elenco como 2-way.
Por que ficar de olho?
Apesar de a rotação de armador do Wizards parecer cheia, o veterano Brogdon está novamente lesionado, e Johnny Davis (em seu terceiro ano na liga) já está praticamente fora da rotação. Atlético e mais experiente que o calouro Bub Carrington, que deve ter seus minutos de desenvolvimento, Butler deve acabar entrando na rotação quando o Wizards precisar, o que pode acontecer com certa frequência.
6. Cole Swider (ala, 25 anos, Detroit Pistons)
Temporada passada:
Sioux Falls Skyforce: 19 jogos (médias: 38 min | 25 pts | 7,3 rebs | 1,2 roubo | 47,4% 3pt)
Quem é esse cara?
Swider foi mais um não foi draftado que acabou entrando na NBA. Começou jogando pelo Lakers com poucos minutos, passando pelo South Bay, onde chutou 43% 3pt. Ano passado assinou com Miami como two-way e jogou 18 vezes na NBA, mas com minutos irrelevantes. Por outro lado, foi dominante pelo Skyforce, sendo selecionado para o Next Up Game, o jogo das estrelas da G League. Após o que pareceu uma boa pré-temporada de 2024 pelo Indiana, acabou surpreendentemente ficando de fora do elenco, mas foi logo em seguida contratado pelo Detroit como two-way.
Por que ficar de olho?
Cole Swider é simplesmente um chutador nato. Também tem um passe bem razoável. O ponto que deixa a desejar é a defesa, mais por conta da pouca mobilidade do que por falta de esforço. Nesse time de Detroit que claramente decidiu investir em espaçamento, Swider pode ser uma boa opção para substituir Beasley ou Tim Hardaway Jr. em caso de lesão, sendo muito melhor chutador que outros jovens como Wendell Moore e Ron Holland. Com 2,03 metros e envergadura igual, também pode ajudar a compor formações mais altas.
5. Riley Minix (ala, 24 anos, San Antonio Spurs)
Temporada passada:
Morehead St. Eagles: 35 jogos (médias: 34 min | 20,9 pts | 9,7 rebs | 1,0 toco | 35% 3pt)
Quem é esse cara?
Calouro de 24 anos, Minix jogou na modesta conferência de basquete universitário de Ohio Valley, onde foi dominante, sendo MVP e Jogador do Ano. Ele ganhou uma chance na pré-temporada de 2024 pelo San Antonio Spurs e, mesmo tendo poucos minutos, não decepcionou. Pelo contrário, acabou chamando atenção pela confiança e bom aproveitamento, o que lhe permitiu conquistar o último contrato two-way disponível na folha do time.
Por que ficar de olho?
Dependendo de como transcorrer a temporada do Spurs, não será estranho se Minix tiver minutos em alguns jogos. Também é muito provável que ele passe um tempo no time afiliado de Austin. Pelo seu perfil de pontuador, tem grandes chances de se destacar no nível da G League. Como quase todo calouro mais pontuador não draftado, a defesa deve ser um problema. Mas, mesmo que não se consolide no Spurs, Minix é o tipo de jogador que pode se firmar na NBA se tiver a chance.
4. Collin Gillespie (armador, 25 anos, Phoenix Suns)
Temporada passada:
Grand Rapids Gold: 12 jogos (médias: 39 min | 20,4 pts | 10,8 asts | 9,3 rebs | 1,8 roubo)
Quem é esse cara?
Saído da tradicional universidade de Villanova, onde passou 5 anos, Gillespie acabou preterido no Draft, mas recebeu uma chance como two-way no Denver em 2022, mas uma perna quebrada o deixou de fora a maior parte do tempo. Em 2023-24, fez 24 jogos (mas apenas 225 minutos) na NBA, chutando 39,5% 3pt, e também jogou pelo Grand Rapids, sendo escolhido para o G League Next Up Game. Curiosamente, já tem uma carreira de certo modo vitoriosa: campeão da NCAA em 2018, também estava no elenco do Denver que levou o título da NBA em 2023. Além disso, ganhou o Prêmio Bob Cousy — concedido a armadores universitários pelo Naismith Hall of Fame —, que já foi dado a nomes como Já Morant, Jalen Brunson e Kemba Walker. Não renovado pelo Denver, assinou com o Phoenix como two-way.
Por que ficar de olho?
Apesar de o Suns ter contratado dois armadores veteranos (Tyus Jones e Monte Morris), a probabilidade de lesões no elenco e a curta rotação podem render a Gillespie alguns minutos reais em quadra. Bom chutador, Gillespie é um armador de ofício, no perfil que o Suns buscou para a temporada, também é muito esforçado defensivamente, apesar da baixa estatura. Seu nível de experiência faz dele uma boa opção para dar profundidade na temporada regular a um time que está mais preocupado com a pós-temporada. Vale também lembrar que, até a data desta publicação, o Suns ainda tem uma vaga no elenco regular, justamente de 3º armador…
3. Jamison Battle (ala, 23 anos, Toronto Raptors)
Temporada passada:
Ohio State: 35 jogos (médias: 31 min | 15,3 pts | 5,2 rebs | 43,3% 3pt | 92,6% FT)
Quem é esse cara?
Além de Minix, Battle é o único outro calouro nesta lista. Chutador de alto nível em Ohio State, inclusive com altíssimo aproveitamento em lances livres, ele acabou não sendo escolhido no Draft 2024. Jogou a Summer League pelo Toronto, chutando 9/15 3pt. Na pré-temporada, chutou 8/14 3pt mesmo tendo apenas 10 minutos por jogo nas cinco vezes que jogou pelo Raptors. Mesmo estando com as três vagas de two-way preenchidas, o bom desempenho de Battle fez com que o Toronto cortasse o pivô Branden Carlson para contratar o chutador.
Por que ficar de olho?
Basicamente, a principal razão para apostar que Battle terá espaço no Toronto é o simples fato de que ele é um ótimo chutador, como já ficou claro. Isso porque o Raptors vem negligenciando o chute do perímetro há algum tempo (inclusive no draft atual), o que faz com que qualquer chutador de nível NBA consiga tempo de quadra. Como muitos chutadores jovens, Battle provavelmente terá dificuldade na defesa, mas, com boa altura e bastante disposição, já mostrou lampejos de que pode evoluir rapidamente nisso.
2. Kai Jones (ala-pivô, 23 anos, LA Clippers)
Temporada passada:
[não jogou]
Quem é esse cara?
Escolhido no Draft 2021 no 19º lugar, Jones assinou contrato com o Charlotte Hornets. Na primeira temporada, teve pouquíssimos minutos de NBA, mas jogou 32 jogos na G League, com médias de 16 pontos, quase 10 rebotes e 2 tocos por jogo. Em 2022-23, atuou em 46 jogos pelo Hornets. Nesse período, Jones começou a apresentar comportamento errático nas redes sociais, o que levou o Hornets a não o incluir na pré-temporada. Alguns dias depois, ele pediu para ser trocado, sendo dispensado logo em seguida. Jones reapareceu na pré-temporada 2024 pelo Clippers, parecendo estar mais focado, e foi muito bem, especialmente na defesa.
Por que ficar de olho?
Kai Jones é, sem dúvida, a aposta mais arriscada desta lista. Mas, com P.J. Tucker afastado do elenco, Kobe Brown ainda por se firmar e praticamente só tendo o veterano Nicolas Batum na posição de ala-pivô, há grandes chances de o Clippers precisar de alguém com o perfil de Jones. Sua capacidade atlética impressionante, sua facilidade em correr a quadra e sua defesa tenaz fazem dele um encaixe perfeito para o que parece ser a nova identidade defensiva do time: roubadas e contragolpe rápido. Além disso, oferece boa proteção do aro e é uma ameaça no pick-and-roll e na ponte aérea. Só resta saber se ele conseguirá manter a cabeça no lugar…
1. Jay Huff (pivô, 27 anos, Memphis Grizzlies)
Temporada passada:
Grand Rapids Gold: 16 jogos (médias: 30 min | 20,0 pts | 8,2 rebs | 3,5 tocos | 40% 3pt)
Denver Nuggets: 20 jogos, mas apenas 49 minutos no total.
Quem é esse cara?
Como alguns outros desta lista, Huff já pode ser considerado um veterano na NBA. O pivô de 2,16 metros começou no Lakers, mas não teve minutos e foi para a G-League, tendo boas passagens pelo South Bay e pelo Capital City com médias acima de 15 pts/jogo e sempre chutando acima de 38% 3pt (aproveitamento que tinha desde a NCAA, onde foi campeão). Foi eleito Defensor do Ano da G-League em 2023, liderando a liga em tocos. Ano passado, se dividiu entre o Grand Rapids, onde foi muito bem, e o Nuggets, mas sem praticamente jogar na NBA. Em quadra, ele oferece espaçamento consistente, rebotes, defesa de garrafão e boa proteção de aro.
Por que ficar de olho?
O chute de 3pt de Huff certamente traz para o Memphis um perfil diferente do calouro Zach Edey e do bom Brandon Clarke. Além da experiência e da altura, ele sabe cortar para a cesta e atuar como opção de pick-and-roll ou pick-and-pop. Também tem bons instintos defensivos, especialmente na ajuda, frequentemente dando tocos nos adversários. Uma formação de frontcourt com Jaren Jackson Jr. e Jay Huff daria a Ja Morant um enorme espaço para atacar a cesta. Se tudo isso não bastasse, o Memphis é sempre assombrado pelo fantasma das lesões, então é sempre bom ter alguém sólido no banco.
[Atualização editorial: Após a elaboração deste texto, Huff jogou bem nas primeiras partidas, entrou na rotação e acabou já sendo promovido a um contrato regular da NBA.]
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