Pouco mais de duas semanas se passaram desde o início da temporada regular, e provavelmente ainda é muito cedo para tirar maiores conclusões sobre quase tudo que aconteceu na liga até aqui. No entanto, se há algo que já ficou bastante claro é que na Conferência Leste, é bem possível que nenhum outro time esteja tão preparado para bater de frente com o todo-poderoso Boston Celtics quanto o Cleveland Cavaliers.
Num espaço de 17 dias, o Cavs jogou dez partidas e venceu todas, sendo cinco fora de casa. Entre elas, destaque para a vitória contra o Milwaukee Bucks, seu concorrente direto tanto na conferência quanto na divisão, e o New York Knicks, em pleno Madison Square Garden. Em casa, o time também assegurou triunfos assertivos contra os embalados Orlando Magic, Los Angeles Lakers e Golden State Warriors. Sempre jogando com autoridade, sem sequer oferecer chance de reação aos rivais.
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Na temporada de previews do 48 Minutos, entre setembro e outubro, fizemos uma live dedicada ao Cavs, para avaliar e analisar as (poucas) movimentações feitas pela franquia de Ohio. A principal delas foi a mudança no comando técnico, com a saída de JB Bickerstaff e a contratação de Kenny Atkinson. Fora isso, o que de principal aconteceu foram as extensões de contrato de algumas peças-chave do time, como Donovan Mitchell, Jarrett Allen e Evan Mobley.
Continuidade e progresso
Quando comandou o Brooklyn Nets, Atkinson foi o responsável por transformar uma franquia sem perspectivas em um time competitivo, valorizando os ativos da organização e preparando o terreno para a troca que eventualmente levou Kevin Durant para o Barclays Center.
Sua recompensa? A guilhotina: ele foi dispensado pelo front office do Nets para dar lugar ao “rookie coach” Steve Nash, que carregava um “hype” à altura do “monstro de três cabeças” então em vias de ser criado, com as adições de Durant, Kyrie Irving e James Harden.
O trabalho no Nets acabou, mas lá, Atkinson conseguiu consolidar a reputação de ser um técnico não apenas capaz de implementar um padrão de jogo sólido em suas equipes, mas também de desenvolver seus atletas, levando-os ao mais perto possível de seu potencial.
Depois de sair do Brooklyn, ele precisou dar alguns passos atrás. Como assistente técnico, primeiro trabalhou com Ty Lue, no LA Clippers, e depois com Steve Kerr em Golden State. Até que quatro anos depois, no último mês de agosto, chegou a oportunidade atual, em Cleveland.
No Cavaliers, ele encontrou um time que já havia sido extremamente competitivo na última temporada, quando chegou às semifinais da conferência. No entanto, o mais notável nesse início de temporada é como Atkinson vem conseguindo não apenas resultados impactantes, mas também parece apontar soluções para algumas questões existenciais que pairavam sobre o Cavs havia anos.
Novos papeis
Evan Mobley e Jarrett Allen podem coexistir em quadra? Entre Darius Garland e Donovan Mitchell, quem fica com a bola? Como maximizar o potencial desse quarteto, dono de um talento indiscutível, mas incapaz de obter resultados à altura de sua evidente qualidade?
Durante as últimas temporadas, esses dilemas pareciam sem resposta. Em mesas redondas e podcasts, muitos cravavam que eram problemas sem solução: alguém teria que ser trocado. Tais questões, entretanto, parecem totalmente apaziguadas após essas primeiras semanas de temporada 24/25.
A grande mudança em relação à última temporada, que parece ter desencadeado todos os demais processos de ajuste do time, foi provocada pela decisão de deixar mais a bola nas mãos de Evan Mobley.
O ala-pivô tem tido maiores responsabilidades de trazer a bola até a quadra adversária, permitindo que Jarrett Allen ocupe o espaço que lhe é mais natural: dentro do garrafão, brigando com o pivô rival. Prova disso é que seu usage rate subiu dos 20.6 na temporada passada, para 24.6 na atual.
Outro resultado dessa novidade tática é que os dois armadores do time, Mitchell e Garland, agora podem respirar um pouco mais. E o alívio físico para os dois, que podem então se deslocar mais livremente até a quadra do adversário, abre ainda mais o leque de alternativas táticas do time, criando espaço para mais jogadas que não se iniciem necessariamente com eles.
Quando menos é mais
O trabalho conduzido por Kenny Atkinson também aumentou, até aqui, a importância – e a eficiência – de alguns jogadores de rotação do Cavs.
Ainda que a amostragem seja pequena, já é possível notar, nos números de jogadores como Isaac Okoro, Caris LeVert e Sam Merrill, alguns ajustes que têm tido um papel decisivo, sobretudo no que diz respeito à seleção de arremessos.
Okoro, por exemplo, já se estabeleceu na liga há alguns anos como um defensor positivo, mas ofensivamente, ainda não conseguiu se tornar uma ameaça, especialmente da linha de três pontos. Na atual temporada, ele tem arremessado do perímetro em um volume consideravelmente menor em relação à última (de 3.8 para 1.8 tentativas por jogo). Paralelamente, a sua eficiência no fundamento cresceu, de 39 para 50%.
Já LeVert não apenas diminuiu, em relação à última temporada, o volume nas bolas de três (de 4.9 para 3.6 por jogo), mas também nos arremessos de média distância – de 7.2 para 4.6 por jogo. Sua média de pontos está marginalmente menor, mas sua eficiência efetiva de arremessos no geral (effective field goal) disparou: saiu de 48 para 71%, um número provavelmente insustentável, mas que fala bastante sobre o trabalho desenvolvido pela atual comissão técnica, e sobre como menos pode, frequentemente, ser mais.
Outros role players, como Sam Merrill, Max Strus, Georges Niang e Dean Wade, também têm desempenhado um papel sólido quando saem do banco, mostrando ao coach Atkinson que ele tem com quem contar quando os titulares não estiverem entregando.
Assim, com um time titular ajustado e um banco de reservas pronto para entregar, o treinador vem fazendo história, e registrando o melhor início de temporada da franquia em todos os tempos. Ainda tem muita água para rolar, e será preciso sorte para evitar lesões que tirem o time de rota.
Mas o certo é que o Cavs, que investiu na continuidade e no desenvolvimento interno, agora colhe os frutos. E já criou uma “gordura” que o coloca em ótimas condições não só para garantir o mando de quadra nos playoffs, mas também para fazer o torcedor sonhar..
Os números citados no artigo foram consultados no Basketball Reference na madrugada de 09/11/24.
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