Poucas coisas divertem mais os fãs de NBA do que pensar em trocas para melhorar seus times. Isso ficou muito mais fácil com as várias trade machines (ESPN, Spotrac, Fanspo, RealGM, etc.) — que são simuladores mais ou menos precisos de trocas. Mas, como tudo no Acordo Coletivo (CBA), as trocas têm uma série de regras que precisam ser seguidas para serem aprovadas pela liga, e até as trade machines acabam deixando algumas de fora.
Aqui vamos tratar dos conceitos básicos, tipos de trocas, como funcionam e mais algumas informações extras como quem pode (ou não) ser trocado e quando isso pode acontecer.
Conceitos básicos
O princípio fundamental das transações na NBA é que a troca não pode fazer o time ultrapassar o teto salarial, então o ideal é sempre “bater salários”, ou seja, mandar um contrato e receber outro de valor similar para a temporada — a não ser que seja usada uma exceção. E a principal exceção usada em transações envolvendo jogadores é a Exceção de Jogador Trocado (Traded Player Exception, TPE), ou exceção de troca.
Uma TPE é criada automaticamente quando um jogador é mandado numa troca sem receber salário(s) de volta especificamente por ele e tem sempre o valor do salário desse jogador na temporada atual. A TPE, então, é como se fosse um espaço “reservado” na folha salarial após a saída do jogador. Ou seja, se você manda um contrato de US$ 4 milhões e não recebe salário por ele, você deixou uma reserva salarial nesse valor na sua folha.
Se o time conseguir fazer essa transação, a troca é considerada não simultânea. Nesse caso, o outro time precisará ter espaço em folha salarial (“cap“) ou uma TPE criada anteriormente para absorver o contrato que recebeu. E o time que mandou o jogador recebe a TPE no valor enviado.
O time que enviou, por sua vez, tem direito de reutilizar esse espaço disponível trazendo outro(s) jogador(es). Um detalhe: a exceção de troca tem que ser usada no prazo de 1 ano (a contar da data da saída do jogador trocado). Depois disso, a TPE expira e desaparece.
Vale ressaltar, porém, que “não mandar salário de volta” não é o mesmo que “não mandar nada de volta”. Toda troca na NBA tem que, necessariamente, envolver alguma coisa — podem ser jogadores, escolhas de draft, direitos de draft ou até mesmo dinheiro (pelo CBA 2023, cada time pode mandar e receber até US$ 7,5 milhões de cash considerations em transações).
Um exemplo de troca não simultânea: No dia 8 de fevereiro de 2024, o Boston mandou Dalano Banton para o Portland por uma escolha de 2ª rodada de 2027 e mais US$ 3 milhões em cash considerations. Assim, foi criada nessa data uma TPE para o Celtics no valor exato do salário de Banton na temporada de 2023-24 (no caso, US$ 2 milhões). Essa TPE tem validade até 8 de fevereiro de 2025. Para o Boston, que tem uma folha salarial supercarregada, não só não havia interesse em receber salário de volta nem em usar a TPE criada depois.
A outra possibilidade, inclusive mais comum, é o time que mandou o jogador decidir (ou precisar) trazer imediatamente outro(s) contrato(s) para “bater salários”. Nesse caso, a troca é considerada simultânea e tem que seguir regras determinadas pelo CBA para ser válida. Simplificadamente, as regras de correspondência salarial (salary match) são as seguintes:
- 200% do salário enviado, mais US$ 250 mil, para qualquer valor até US$ 7,5 milhões.
- Salário enviado mais US$ 7,5 milhões para valores entre US$ 7,5 milhões e US$ 29 milhões.
- 125% do salário enviado, mais US$ 250 mil, para valores acima de US$ 29 milhões.
Resumindo até aqui: Na prática, toda troca é feita através de exceções ou espaço livre na folha salarial, a única questão é se ocorre imediatamente (simultânea), seguindo as regras, ou posteriormente (não simultânea).
Um exemplo de troca simultânea foi aquela em que o Hornets mandou Nick Richards para o Suns, recebendo Josh Okogie. O contrato de Richards é US$ 5 milhões; portanto, pelas regras, o Hornets poderia receber de volta 200% desse valor (US$ 10 mi) + US$ 250 mil, isto é, US$ 10.250.000 — um limite que abrangeu confortavelmente o contrato de US$ 8.250.000 de Okogie.
Isso ajudou o Phoenix, que obrigatoriamente, por estar acima dos dois limiares, tinha que enviar mais salário do que receberia. Sendo assim, o Suns tratou (veja abaixo) a troca como não simultânea, gerando uma TPE pelo contrato de Okogie e descontando US$ 5 milhões de Richards; restaram, portanto, US$ 3.250.000, que eles podem usar até o ano que vem, se quiserem. Mas, como parte dessa negociação tinha o objetivo de reduzir a folha salarial, há pouquíssimas chances de o Suns usar essa sobra (ao menos nesta temporada…).
E, sobre esse ponto, é importante destacar uma coisa: desde que tenha espaço suficiente em folha para a transação e siga as regras estabelecidas, cada time tem a prerrogativa de decidir se a troca é ou não simultânea, até mesmo determinando dentro de uma troca com vários jogadores quais estão correspondendo ao salário enviado/recebido e quais serão absorvidos diretamente no cap ou em TPEs pré-existentes. E os times envolvidos podem ter visões diferentes sobre a mesma troca, de acordo com o que funciona para eles.
O site HoopsRumors traz um bom exemplo de como isso pode acontecer. No caso da troca acima entre Toronto Raptors e New York Knicks, cada time encarou a transação de uma forma diferente, de acordo com sua situação financeira, quebrando em várias partes:
- Para o Knicks, Quickley foi trocado por Achiuwa e Flynn numa troca simultânea, em que (pelas regras acima) eles podiam receber até 200% do salário de Quickley (US$ 4,2 mi), ou seja, US$ 8,6 milhões, o que abrangia perfeitamente os salários de Achiuwa e Flynn somados (US$ 8,2 mi). A parte da troca entre Barrett e Anunoby foi considerada pelo Knicks como não simultânea, com o Knicks criando uma TPE de US$ 23,9 milhões ao trocar R.J. e absorvendo o salário de O.G. (US$ 18,6 mi) dentro dela, e ainda sobrando uma diferença (US$ 5,2 mi) da TPE.
- Para o Raptors, a troca de Anunoby por Barrett foi considerada simultânea. Portanto, pelas regras acima, TOR podia receber até US$ 26,1 milhões (salário de Anunoby + US$ 7,5 milhões), o que cobria o contrato de Barrett, mas não o de Quickley. Então, para Toronto, Quickley foi mandado numa troca simultânea por Flynn (200% do salário dele). Por fim, TOR considerou que Achiuwa foi para o Knicks numa troca não simultânea, criando uma TPE no valor do salário dele.
Pode parecer meio confuso, mas basta saber que tudo são decisões estratégicas sobre como melhor utilizar esse recurso limitado que é a folha salarial e conseguir fazer as movimentações que interessam ao time do ponto de vista esportivo e financeiro. É por isso que várias exceções são criadas e usadas a cada transação, e há sempre um número enorme de TPEs ativas. No fim das contas, para quem vê de fora, o que importa é que a troca funciona de qualquer modo.
Sign-and-trade
Uma modalidade muito usada (e conhecida dos torcedores) é a chamada sign-and-trade. Como fica claro na tradução direta, é uma transação em que o time (re)contrata um jogador que terminou a temporada anterior no seu elenco e imediatamente o troca para outra franquia — o que é oficializado no novo contrato através de um adendo (Exhibit 8) que prevê anulação do acordo se dentro de 48 horas ele não for trocado para o time combinado.
Esse tipo de transação tem algumas vantagens:
- Usar a capacidade que o time atual tem de oferecer um contrato mais lucrativo e/ou mais longo ao jogador do que um novo time poderia ofertar ao contratá-lo.
- Permitir que um jogador livre (free agent) assine com um time que não tem espaço em folha salarial para contratá-lo diretamente.
- Trazer algum retorno para o time que está enviando o jogador, ainda que mínimo.
- Gerar uma TPE para o time que está enviando o jogador, se houver chance disso.
Um exemplo recente de sign-and-trade: No dia 6 de julho de 2024, Jonas Valančiūnas foi trocado numa sign-and-trade do Pelicans para o Wizards, que não mandou salário de volta — apenas recebeu o contrato de US$ 9,9 milhões que tinha acertado com o pivô lituano. Foi criada nesse dia, então, uma TPE para o New Orleans no valor exato de US$ 9,9 milhões, com validade até 6 de julho de 2025. Assim, o Pelicans tem até essa data para receber jogador(es) via troca, mas também pode simplesmente deixar a TPE expirar se quiser, como já explicado.
Nessa troca, o Pelicans recebeu uma escolha de draft de 2ª rodada protegida top-50, o que, em termos de recursos na NBA, é o equivalente a praticamente nada. A rigor, o jogador estava livre para assinar com quem quisesse, não dependendo do time anterior. Mas, como dissemos, os dois times precisam mandar alguma coisa na transação. Para o New Orleans, um time que está acima do teto salarial, essa TPE de quase US$ 10 milhões abria a possibilidade de adquirir algum reforço ao longo da temporada caso preciso. Uma vez que a temporada do Pelicans está praticamente perdida, é improvável que o gerente-geral use a TPE dentro do prazo.
Com as folhas salariais cada vez mais engessadas, é provável que a modalidade sign-and-trade seja ainda mais utilizada. Há também uma prima menos ilustre e menos frequente, a extend-and-trade, que é uma renovação/extensão contratual seguida de uma troca. Com o novo CBA permitindo que as extensões contratuais alcancem até 120% do salário anterior do jogador (antes era 105%), é bem possível que vejamos mais transações desse tipo também.
Novas armas de troca
Se, por um lado, as regras salariais têm ficado cada vez mais rígidas; por outro, estão surgindo novas opções para realizar trocas. Antes do CBA de 2023, a única exceção que podia ser usada para adquirir outros jogadores via troca era a já citada TPE, mas agora os times passaram a ter permissão para, além da função original de contratar jogadores livres, usar praticamente todos os tipos de exceção de folha salarial em trocas. Lembrando que exceções são a única forma que times têm de ultrapassar o teto salarial.
Entre as exceções que agora podem ser usadas adquirir contratos em trocas, estão a Exceção Bianual (BAE), a Exceção de Jogador Incapacitado (DPE), a Exceção de Nível Médio para time abaixo do teto (Room MLE, ou R-MLE), para taxpayer (TP-MLE) e non-taxpayer (NT-MLE). Essas exceções merecem um artigo exclusivo, mas aqui basta saber que podem ser utilizadas, no todo ou em parte, em transações, desde o(s) salário(s) recebidos não ultrapassem os valores predeterminados1 e sigam algumas regras.
- BAE: Pode ser usada para adquirir 1 (um) ou mais contratos com no máximo 2 (dois) anos restantes. O nome “bianual” é porque essa exceção não pode ser usada em duas temporadas consecutivas.
- Valor (2024-25): US$ 4.668.000
- NT-MLE: Disponível para times acima do teto salarial, mas abaixo da luxury tax. Pode ser usada para adquirir 1 (um) ou mais contratos com no máximo 4 (quatro) anos restantes.
- Valor (2024-25): US$ 12.822.000
- TP-MLE: Disponível para times acima da luxury tax. Pode ser usada para adquirir 1 (um) ou mais contratos com no máximo 2 (dois) anos restantes.
- Valor (2024-25): US$ 5.168.000
- R-MLE: Fica disponível a qualquer momento da temporada em que o time ficar abaixo do teto salarial, desde que não tenha usado outra das exceções acima. Pode ser usada para adquirir 1 (um) ou mais contratos com no máximo 3 (três) anos restantes.
- Valor (2024-25): US$ 7.983.000
- DPE: Disponível para times que solicitaram à NBA uma exceção por ter um jogador lesionado na temporada e tiveram o pedido aprovado. Pode ser usada para adquirir 1 (um) jogador com contrato de apenas 1 (uma) temporada.
- Valor: 50% do salário do jogador lesionado ou o valor da NT-MLE para a temporada em questão, o que for menor.
Um exemplo hipotético:
Digamos que o Atlanta Hawks (ATL) queira despachar Cody Zeller, que tem 3 anos de contrato, mas 2025-26 e 2026-27 não garantidos. Svi Mykhailiuk, do Utah Jazz (UTA), tem um contrato com exatamente os mesmos valores e garantias, com a diferença de ter um ano a mais (opção do time em 2027-28). Como o Jazz está abaixo do teto salarial, tem disponível a R-MLE inteira (US$ 7.983.000), pode usar essa exceção para absorver o salário de Zeller em vez de usar o espaço criado pelo envio do contrato de Mykhailiuk. ATL, por sua vez, pode usar uma TPE pré-existente, como a da troca de A.J. Griffin (US$ 3,7 milhões), para absorver o contrato de Svi e gerar uma nova TPE. Assim, apesar de envolver salários rigorosamente iguais, a troca seria não simultânea para os dois lados. Como Zeller sequer jogou na temporada, ATL poderia mandar um montante em dinheiro (p.ex.: US$ 2,5 milhões) para cobrir o prejuízo do UTA. O resultado da troca então seria:
- ATL recebe Myhailiuk e uma TPE (referente ao contrato de Zeller) no valor de US$ 3.500.000 para ser usada em até 1 (um) ano.
- UTA recebe Zeller e uma TPE (referente ao contrato de Mykhailiuk) no valor de US$ 3.500.000 para ser usada em até 1 (um) ano.
- UTA subtrai US$ 3,5 milhões de sua R-MLE, ficando com uma sobra de US$ 4.483.000 para usar em outra transação.
- ATL consome US$ 2,5 milhões dos US$ 7,5 milhões que pode enviar em dinheiro durante a temporada, restando US$ 5 milhões para serem enviados em outras transações.
- UTA consome US$ 2,5 milhões dos US$ 7,5 milhões que pode receber em dinheiro durante a temporada, restando US$ 5 milhões para serem recebidos em outras transações.
Além dessas, já existia antes a Exceção de Salário Mínimo, que permite adquirir livremente jogadores que ganhem o mínimo, desde que no máximo por 2 (duas) temporadas.
Mas é preciso lembrar que, antes de a transação ser concretizada, o time precisa ter vaga(s) no elenco para receber o número de jogadores que vai adquirir. Por isso que, no exemplo acima, mesmo tendo as exceções para usar, como estão com elenco completo (15 jogadores), ATL e UTA necessariamente teriam que mandar na própria troca 1 (um) jogador para criar 1 (uma) vaga no elenco (ou previamente cortar um jogador) caso quisessem receber outro jogador.
Para fechar a questão dos tipos de exceção quando usada em trocas, é preciso dizer que um time não pode agregar ou combinar exceções para adquirir um ou mais jogadores cujo(s) salário(s) seja(m) maior que as exceções. Em outras palavras, as exceções precisam ser usadas isoladamente, ainda que dentro de uma mesma troca.
Mais um exemplo para esclarecer:
Na troca hipotética acima, cada jogador seria adquirido usando uma ferramenta salarial diferente: Toppin tem 4 anos de contrato e ganha um salário dentro da NT-MLE (com margem de US$ 250 mil), o que permite adquiri-lo com essa exceção (utilizando-a totalmente); Sheppard, com 3 anos de contrato, poderia ser absorvido dentro da BAE, consumindo uma parte dela; Wiseman (2 anos de contrato) seria adquirido através da exceção de salário mínimo; Len (expirante) seria adquirido usando a DPE2 que o Pacers ganhou pela lesão de Isaiah Jackson (no valor de US$ 2,2 milhões); por fim, Huerter seria absorvido diretamente na folha salarial com o espaço deixado pelas saídas dos outros jogadores.
Esse é apenas um exemplo para mostrar como diversas exceções podem ser usadas numa mesma troca, mas não podem ser somadas para adquirir um contrato maior.
Avaliando trocas
Um dos erros mais comuns ao avaliar uma troca é sempre considerar apenas os jogadores envolvidos. É muito raro que os principais atletas envolvidos numa troca tenham valor e qualidade semelhante, e a transação seja puramente questão de construção de elenco — talvez um bom exemplo seja a troca de Tyrese Haliburton por Domantas Sabonis, mas não é a regra.
Na maioria das vezes, há uma série de outros fatores que precisam ser considerados, como momento atual do time (reconstruindo, competindo, etc.), quem é o gerente-geral ou dono (alguns não querem reconstruir, outros não querem gastar muito), situação salarial do time (atual e futura), valor e duração do contrato, idade do atleta, encaixe em quadra, necessidades do elenco, situação do jogador no time (franchise player, titular, 6º homem, rotação, role player, liderança de vestiário), entre outros.
Um caso recente é o da troca entre Wolves e Knicks que mandou Julius Randle e Donte DiVincenzo (junto com uma escolha de 1ª rodada do Pistons) para Minnesota, e Karl-Anthony Towns para Nova York. Há muita discussão sobre “quem ganhou” a troca, mas geralmente baseada apenas na qualidade dos jogadores principais. Ainda que Randle tenha sido all-star em 2023-24, é bem claro que Towns (autointitulado o melhor pivô chutador de todos os tempos) é um jogador com mais valor do ponto de vista da quadra. Mas vamos observar em mais detalhe.
Towns tem um contrato no valor total de US$ 159,4 milhões que vai até 2027-28. Seu salário para 2024-25 (US$ 49,2 mi) é o 8º maior contrato da liga na temporada. Ele tem 29 anos. Isso quer dizer que ao fim do contrato ele terá 32 anos. Ocorre que, com a ascensão de Anthony Edwards, ficou muito claro ele já tinha deixado de ser o franchise player do Wolves. Some-se a isso o fato de que a renovação contratual de Edwards começou nesta temporada de 2024-25, fazendo com que seu salário saltasse de US$ 13,5 para US$ 42,1 milhões. Randle ganha US$ 33 milhões (com mais um ano opcional no valor de US$ 31 mi para 2025-26) e Donte tem um contrato de 3 anos ganhando entre US$ 11-12 milhões/ano. Após a troca, Minnesota continua a folha salarial totalmente estourada (US$ 62 mi acima do teto e US$ 16 mi acima do 2º Limiar), mas reduziu gastos futuros e ganhou flexibilidade com dois contratos menores.
Já ficou claro, então, que a motivação do Wolves foi financeira, foi uma forma de trocar Towns — um jogador que tinha perdido proeminência no time e estava custando muito caro — enquanto ele tem valor positivo (o que pode mudar quando ele estiver ganhando mais de US$ 60 milhões em 2028…). Seja renovando ou trocando Randle, o Wolves certamente já economizou muito, o que pesa também para um time que acabou de trocar de donos. Além disso, pegou Donte, que é possivelmente um dos melhores contratos da liga para os próximos anos e atende a várias necessidades do time (armação secundária, chute de 3 pontos, etc.)
Já para o Knicks, a troca foi principalmente uma questão de quadra, trazendo um jogador titular para uma posição carente (pivô), mas também liberando do elenco Randle, que certamente teria perdido espaço após a chegada de outros (como OG Anunoby e Mikal Bridges) e estava com a situação contratual ainda por resolver, já que não se tinha chegado a um acordo de renovação. Também faz sentido para o Knicks se “arriscar” com o contrato de Towns, já que está com a folha sob controle e montou esse elenco para competir pelo título.
Esse foi apenas um exemplo de como a questão da qualidade dos maiores nomes envolvidos numa transação nem sempre é o principal para os dois times. É claro que o Minnesota não queria cair drasticamente de patamar após ter chegado longe nos playoffs em 2024, então essa troca foi uma forma de talvez perder um pouco em qualidade, mas melhorar muito do ponto de vista administrativo.
Portanto, é preciso avaliar uma transação do ponto de vista do que cada time quer (que nem sempre é o que o torcedor quer…) e se foi bem-sucedido ou não nesse objetivo. Se um time quer economizar para o futuro, precisa pegar contratos expirantes ou menores. Para times em reconstrução, jovens e escolhas de draft interessam bem mais; para times querendo competir, é o contrário: veteranos de alta produção são o foco. Folhas salariais muito altas só compensam para os contendores ao título, ainda mais agora com o novo CBA.
Observações finais sobre trocas
Pedido de troca
A maioria dos fãs já sabe, mas vale lembrar que o CBA proíbe qualquer jogador de expressar publicamente o desejo de ser trocado para outro time, sob pena de multa até US$ 150 mil. Ou seja, toda ação de troca tem que ser oficialmente iniciada entre franquias.
Período de trocas
O período em que trocas são permitidas vai do dia seguinte ao fim da temporada até a trade deadline da temporada seguinte. Portanto, assim que a temporada termina, os times já podem voltar executar trocas.
Restrições de trocas para times
Como explicado no artigo sobre o sistema salarial da NBA, times acima do 1º ou do 2º Limiar têm uma série de restrições quando se trata de trocas, como não poder receber mais de 100% do salário enviado sob nenhuma circunstância, não poder agregar jogadores numa troca, não poder usar exceções de troca criadas na temporada anterior, etc.
Contratos não garantidos
A partir do CBA 2023, no caso de salários não garantidos, apenas a parte garantida conta como salário enviado para efeito de troca. Antes, era possível trocar, p.ex., um salário de US$ 10 milhões com apenas US$ 1 milhão garantido como se realmente valesse o total (para efeito de bater salários na troca). Pelas novas regras, esse salários só contaria com US$ 1 milhão para o time que está enviando o contrato. O time pode, no entanto, garantir uma parte maior (ou a totalidade) do salário se for ajudar no cálculo da troca.
Trade kicker e outros bônus
Todo jogador pode negociar a inclusão de um bônus em caso de troca, normalmente chamado de trade kicker. Esse bônus pode ser um valor fixo ou um percentual do valor que resta no contrato (exceto anos opcionais). Como o percentual máximo é 15%, esse geralmente é o padrão para trade kickers. Outra questão é que, em caso de trade kicker, o valor desse bônus (dividido pelos anos de contrato) tem que ser considerado na negociação de troca.
Por exemplo: um jogador tem um contrato no valor total de US$ 100 milhões em 4 anos, com salário anual de US$ 25 milhões e um trade kicker de 15%. Caso seja trocado, o bônus será de US$ 15 milhões (15% de US$ 100 mi). Para fins de troca, esse valor é dividido pelos 4 anos (no caso, US$ 2,5 mi/ano) e somado ao salário atual. Esse ponto é importante porque, para o time que vai receber o jogador, ele conta como um salário de US$ 27,5 milhões; para o time que envia, ele continua contando como um salário de US$ 25 milhões.
Alguns jogadores que possuem essa cláusula de 15% no contrato: Giannis Antetokounmpo, OG Anunoby, Stephen Curry, Jimmy Butler, Anthony Davis, Draymond Green, James Harden, LeBron James, Kyrie Irving, entre outros. No entanto, se o jogador já ganhar o máximo possível, o bônus é ignorado em caso de troca.
Um último ponto relevante é que, durante a negociação de troca, o jogador pode abrir mão desse bônus em parte ou no todo, caso seja do seu interesse ser trocado.
Incentivos prováveis e improváveis
Na verdade, os incentivos — também chamados de bônus de performance — seriam assunto para um artigo especificamente sobre contratos, mas, de forma resumida, são cláusulas contratuais que pagam um valor fora do salário de acordo com certas metas de desempenho.
A meta tem que ser algo positivo que o jogador ou time tentem alcançar. No caso de objetivos ligados ao time, pode ser algo como conseguir certo número de vitórias, chegar à final de Conferência ou vencer o título da NBA. No caso de metas individuais, precisa ser uma estatística definida para a temporada (p.ex.: chutar mais de 37% 3pt, ter média de mais de 6 assistências por jogo, tudo isso segundo as estatísticas oficiais do NBA.com) ou conseguir algum prêmio oficial (Defensor do Ano, All-Star, All-NBA).
Nesse sentido, há dois tipos de incentivos: prováveis (likely) e improváveis (unlikely). A explicação simplificada é que os prováveis são aqueles que aconteceram na temporada anterior; e os improváveis os que não aconteceram. Por exemplo, digamos que um pivô assina contrato com incentivo para ter 60% de aproveitamento em cestas de 2 pontos. Se ele conseguiu isso no ano anterior, é um incentivo provável; se não, improvável. Simples.
E que diferença isso faz? Bom, a diferença é que incentivos prováveis são somados são salário-base para efeito de cálculo do teto salarial e luxury tax, e os incentivos improváveis são somados ao salário-base e aos incentivos prováveis para cálculo dos limiares da folha salarial. Portanto, ambos afetam trocas entre times, que é o que importa aqui.
Então, digamos que haja dois jogadores que têm um salário-base de US$ 20 milhões na temporada atual, sendo que o jogador X tem US$ 1 milhão em incentivos prováveis no contrato, e o jogador Y tem US$ 5 milhões em incentivos improváveis. Se um time está US$ 2,5 milhões abaixo do 2º Limiar (hard-capped3) e só puder mandar US$ 20 milhões em salário numa troca, ele pode adquirir o jogador X, mas não o jogador Y — já que, para efeito de cálculo de limiar, X ganha US$ 21 mi, e Y ganha US$ 25 mi.
É por isso que o cálculo para trocar um jogador como Cam Johnson, por exemplo, não é tão simples. Como ele tem US$ 4,5 milhões em incentivos improváveis, para alguns times próximos ou acima do 1º ou 2º Limiar o impacto salarial dele vai contar como US$ 27 milhões (em vez de simplesmente o salário-base de US$ 22,5 mi), o que obriga a mandar mais salário numa troca.
Quem não pode ser trocado?
Teoricamente, todos os jogadores da NBA podem ser trocados, o que varia é quando e/ou como isso pode acontecer. Um jogador só não pode ser trocado nos casos abaixo:
• Um calouro que assinou um contrato-padrão só pode ser trocado após 30 dias da assinatura.
• Um jogador que assinou contrato two-way só pode ser trocado após 30 dias da assinatura.
• Um jogador livre (free agent) que assinou contrato-padrão só pode ser trocado 3 meses depois da assinatura ou a partir de 15 de dezembro (o que for mais distante).
• Um jogador two-way convertido para contrato-padrão só pode ser trocado após 3 meses ou a partir de 15 de dezembro (o que for mais distante).
• Um jogador que renovou com o próprio time só pode ser trocado 3 meses depois da assinatura ou a partir de 15 de janeiro (o que for mais distante).
• Um jogador com uma cláusula no-trade no seu contrato só pode ser trocado com permissão dele. A cláusula não perde validade após uma ou mais trocas.
• Um jogador que renova com o mesmo time por mais 1 (um) ano (ou dois anos, com opção 2º ano) só pode ser trocado com permissão dele. Isso, porque, ao ser trocado o jogador perde o direito (Bird Rights) de renovar por um salário maior.
• Um free agent restrito que recebeu oferta de outro time, mas ficou no time atual porque este igualou a oferta não pode ser trocado até o fim da temporada.
Existem algumas situações em que o jogador pode ser trocado, mas não junto (agregado) com outros salários. Nesses casos, o prazo é 60 dias após a troca. Mas, de modo geral, um jogador pode ser trocado inúmeras vezes na mesma temporada.
Para concluir…
A gente sabe que este conteúdo não é muito fácil de digerir. Por sorte, a maioria das trade machines que citamos já cuidam de 90% das dores de cabeça que um torcedor casual teria para fazer essas contas. A grande questão das trocas é sempre tentar avaliar não o valor dos jogadores no mercado e para o time, mas também a situação de todos os envolvidos. Se você conseguir explicar por que as franquias envolvidas diriam “sim” a uma troca, é bem possível que ela seja pelo menos realista. Aí só resta torcer para o GM do seu time ter a mesma ideia…
- Os valores de exceções são atualizados a cada nova temporada. A NT-MLE corresponde a 9,12% do valor do teto salarial da temporada; a R-MLE, a 5,678% desse valor; a BAE, a 3,32% do teto; e a TP-MLE sobe na mesma proporção que o cap subir. ↩︎
- Aparentemente, a trade machine do Spotrac, que está em modo beta para testes, ainda não especifica quando é DPE. ↩︎
- Falamos um pouco sobre hard cap no artigo sobre sistema salarial, mas basta lembrar que um time hard-capped não pode passar o limite por nem um dólar sequer. ↩︎
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