Como vamos analisar
Acertar um prêmio individual na NBA antes mesmo da temporada começar é uma tarefa que exige muita análise. Primeiro, precisamos levar em consideração o histórico do prêmio. Isso é importantíssimo porque os prêmios são dados por votos de jornalistas envolvidos com a cobertura da liga. Então, analisando o histórico de vencedores, nós começamos a ter uma ideia de como a votação pode se desenrolar na temporada vindoura. O prêmio de Novato do Ano traz indícios bem fortes através dessa análise.
Superada a primeira etapa, precisamos restringir o campo. Para Novato do Ano, ele já vem bem restrito, afinal existe uma classe limitada. Virtualmente, os outros prêmios têm campos muito maiores de onde podem acabar pousando. Mas, ainda assim, num universo de 50 ou 60 jogadores, uma probabilidade de 2% não é muito vantajosa. O prêmio de Novato do Ano tem uma peculiaridade nesse momento: para restringir o campo, nós vamos trabalhar com projeções e análises, já que nenhum dos atletas pisou numa quadra de NBA.
Finalmente, o terceiro ponto é a história envolvida. Quase todos os prêmios individuais envolvem o roteiro daquela história. Vai existir uma mística, ou um momento muito importante, ou até uma lesão, que pode ser um fator definidor na votação daquele ano.
Portanto, para tentarmos adivinhar o prêmio de Novato do Ano (ou Rookie of the Year, para os que gostam de se manter na raiz), vamos fazer a análise considerando tudo isso.
O histórico do Novato Do Ano
Na minha visão, ir até o início do prêmio seria perda de tempo. Primeiramente, os votantes de hoje não definiram nada em épocas muito antigas. A cabeça é outra, a votação é outra. Em segundo lugar, o basquete (assim como praticamente qualquer esporte) mudou demais nos últimos 20 anos. Os números incharam em alguns aspectos, desincharam em outros. Então, nosso histórico analisado aqui vai pegar desde o prêmio dado a Mike Miller em 2000-01. Não é nada cientifico, é somente um período de tempo que julgo bom.
Vencedores do ROY desde 2001
Ano | Vencedor | Franquia |
---|---|---|
23-24 | Victor Wembanyama | San Antonio Spurs |
22-23 | Paolo Banchero | Orlando Magic |
21-22 | Scottie Barnes | Toronto Raptors |
20-21 | LaMelo Ball | Charlotte Hornets |
19-20 | Ja Morant | Memphis Grizzlies |
18-19 | Luka Doncic | Dallas Mavericks |
17-18 | Ben Simmons | Philadelphia 76ers |
16-17 | Malcolm Brogdon | Milwaukee Bucks |
15-16 | Karl-Anthony Towns | Minnesota Timberwolves |
14-15 | Andrew Wiggins | Minnesota Timberwolves |
13-14 | Michael Carter-Williams | Philadelphia 76ers |
12-13 | Damian Lillard | Portland Trail Blazers |
11-12 | Kyrie Irving | Cleveland Cavaliers |
10-11 | Blake Griffin | Los Angeles Clippers |
09-10 | Tyreke Evans | Sacramento Kings |
08-09 | Derrick Rose | Chicago Bulls |
07-08 | Kevin Durant | Seattle Supersonics* |
06-07 | Brandon Roy | Portland Trail Blazers |
05-06 | Chris Paul | New Orleans Hornets |
04-05 | Emeka Okafor | Charlotte Bobcats* |
03-04 | LeBron James | Cleveland Cavaliers |
02-03 | Amare Stoudemire | Phoenix Suns |
01-02 | Pau Gasol | Memphis Grizzlies |
00-01 | Mike Miller | Orlando Magic |
As odds para o Novato do Ano
Antes de começarmos a análise em si, vamos para as odds que as casas de apostas americanas estão oferecendo para os 10 melhores cotados no dia de hoje, 10 de setembro de 2024. É importante entender como o mercado está lendo o que pode acontecer por dois motivos: primeiro, pra nos dar o norte onde o prêmio deve chegar no final da temporada e, depois, para aproveitar eventuais leituras discrepantes.
Jogador | Odd |
---|---|
Zach Edey (MEM) | 7.00 |
Reed Sheppard (HOU) | 8.00 |
Zaccharie Risacher (ATL) | 8.50 |
Alexandre Sarr (WAS) | 10.00 |
Stephon Castle (SA) | 11.00 |
Dalton Knecht (LAK) | 11.00 |
Matas Buzelis (CHI) | 11.00 |
Bub Carrington (WAS) | 16.00 |
Donovan Clingan (POR) | 17.00 |
Rob Dillingham (DET) | 18.00 |
Analisando os vencedores
Mergulhando nos dados dos vencedores do prêmio de Novato do Ano, nós conseguimos traçar alguns perfis muito claros. Abaixo entraremos em detalhe em cada um deles, mas vamos adiantar logo o que precisamos achar nos nossos candidatos. Eles precisam:
- Ter muito tempo em quadra
- Não machucar
- Alguma capacidade de pontuar
Com isso em mente, vamos lá!
O novato fica muito tempo em quadra
Como podemos ver no gráfico (se estiver ruim para visualizar, clique na opção de tela cheia), tradicionalmente, o Novato do Ano é um cara que vai jogar muito tempo e muitas partidas. São poucas exceções nesse período de análise. Um caso recente e famoso demonstra um pouco disso. Em 2019-20, Ja Morant levou o prêmio competindo contra Zion Williamson. Ja teve números menos expressivos, mas jogou a temporada inteira. Veja abaixo:
Atleta | Pontos | Rebotes | Asts | Partidas | Votos 1º lugar |
---|---|---|---|---|---|
Ja Morant | 17,8 | 3,9 | 7,3 | 67 | 99 |
Zion WIlliamson | 22,5 | 6,3 | 2,1 | 24 | 1 |
Esse exemplo talvez não seja exatamente um poço de discrepância, mas mais à frente falaremos de outro caso muito parecido e vocês vão ver que, realmente, o novato que vai ser escolhido para o prêmio precisa ter tempo em quadra.
Edey é favorito por isso?
A resposta curta é: não. Aqui, começa nosso exercício imaginativo. O favorito das casas de apostas para o prêmio é o pivô de 22 anos Zach Edey. Edey teve dois últimos anos incríveis em Purdue, quando ele empilhou pontos e rebotes. Ele é um atleta muito alto, com 2m24, que pode fazer um bom trabalho estabelecendo screens, mas é incapaz de espaçar a quadra.
temporada | pontos | rebotes | tocos |
---|---|---|---|
junior (22-23) | 22,3 | 12,9 | 2,11 |
senior (23-24) | 25,2 | 12,2 | 2,15 |
Apesar de um pivô com alguns atributos, o que talvez coloque Edey encabeçando a lista de favoritos é a posição em que foi selecionado. O Memphis Grizzlies o escolheu com a 9ª escolha no último Draft, deixando nomes como Cody Williams e Mata Buzelis passar.
Para completar o hype construído ao redor do pivô, o Memphis fez claramente uma escolha baseada em necessidade. Sem Steven Adams desde o ano passado, quando perdeu a temporada por lesão e foi trocado para o Houston Rockets, o elenco rodou um pelotão de jogadores na posição 5 para tentar encaixar algo. Jaren Jackson Jr., defensor do ano há duas temporadas, foi um nome que pegou bastante carga embaixo do aro, mas o cargo foi passando de mão em mão com nomes como Bismack Biyombo e Trey Jamison.
Por que não acreditar em Edey?
Dessa forma, o que potencialmente habilita Edey a ser o grande competidor pelo prêmio, também o afasta dele. Eu particularmente não acredito que ele vá ter tempo de quadra suficiente para competir pelo troféu.
Como já falamos, o pivô mais recente do Memphis foi o experiente Steven Adams. Apesar de ter muito tempo de liga, Adams ainda está pra fazer seus 31 anos de idade e, mesmo assim, ele nunca chegou perto de jogar 30 minutos por jogo.
Forte, ótimo nas ajudas no ataque, bom reboteiro e um pontuador limitado a ficar perto da cesta, arriscando alguns jumps. Adams, basicamente, é o que Edey vai tentar ser para sobreviver na liga. Contudo, estamos falando de um cara que já pisou em Memphis com 8 temporadas de NBA nas costas e, mesmo assim, Adams não ficou em quadra nem o tempo que estamos estabelecendo com necessário para concorrer ao prêmio de Novato do Ano.
Se a gente considerar que Edey pode ter problemas de trocas na defesa, pode ser explorado negativamente por causa de seu tamanho e peso (2m24, 135 quilos), a gente levanta algumas bandeiras vermelhas que não me deixam considerar que ele irá ter tempo de quadra o suficiente para performar.
Finalmente, já pincelamos um ponto que será falado ainda mais à frente: considerando que ele jogue a mesma minutagem que o pivô anterior, será que Edey será ativo no ataque o suficiente para pontuar em quantidade necessária para concorrer pelo prêmio? Vejamos como foi Adams nos dois anos que passou no Tennessee.
S. Adams | Partidas | Minutos | Pontos | Rebotes |
---|---|---|---|---|
21-22 | 76 | 26,3 | 6,9 | 10 |
22-23 | 42 | 27 | 8,6 | 11,5 |
Nunca um jogador com 8,6 pontos por jogo venceu o novato do ano. Óbvio que Edey não é um clone de Adams e que o time é sempre a mesma coisa. Mas o Memphis tem Ja Morant, Desmond Bane, Marcus Smart e Jaren Jackson Jr. como claras opções de ataque antes de Edey. Ainda, no banco, vai ter jogador que mostraram a capacidade de pontuar também, como Santi Aldama, Scotty Pippen Jr e GG Jackson (perderá os 3 primeiros meses de temporada). Será que Edey chegará perto de 10 pontos por partida?
E os outros favoritos terão tempo?
O próximo na lista de favoritos é o armador de Houston, Reed Sheppard. Sheppard é um armador no estilo tradicional, com leitura de quadra acima da média e ótimas tomadas de decisões. Fez uma summer league bem interessante e está em alta na mídia. O problema aqui é que ele é um backup direto para Fred VanVleet, um cara que joga muito tempo. Desde que explodiu na liga, em 2019-20, VanVleet joga algo perto de 36 minutos por jogo. Isso daria, obviamente, 12 minutos garantidos a cada partida para Reed.
VanVleet pegou poucos minutos de 2 ano passado, mas chegou a jogar na posição, assim como Jalen Green chegou a jogar de 1 em algumas ocasiões. Mas, o backup principal do armador foi o já experiente Aaron Holiday. Holiday jogou, em média, 16 minutos por partida.
A gente pode considerar que Reed pegará todos esses 16 minutos, mas acho extremamente improvável, visto que o Houston renovou com Holiday por mais um ano, com opção para outro. Não faria sentido acabar com a minutagem do armador. Particularmente, eu não consigo enxergar como Sheppard teria perto de 30 minutos por jogo, mas se você enxerga, fique à vontade para fazer a fezinha.
A coisa começa a mudar de figura com Zaccharie Risacher. Não fiz nenhuma pesquisa disso, mas imagino que essa seja a primeira vez em alguns anos que a escolha número 1 do draft não seja o favorito de cara. Pela odd, é um nome que começo a gostar do palpite. Ele precisa vingar. O Atlanta Hawks tem sido uma decepção nos últimos anos e Risacher pode ser um nome para ajudar nesse retooling ao redor de Trae Young, caso permaneça lá. Ele se encaixa perfeitamente na rotação do time que, na posição 3, acabou de perder o titular da última temporada, Saddiq Bey. Sem Bey, abre-se uma opção muito grande de Risacher engolir todos os minutos dele na rotação e não seriam poucos.
O negócio começa a melhorar…
Depois de Zaccharie Risacher na lista, temos alguns nomes que também me chamam a atenção. Primeiro, Alexandre Sarr. Esse é outro jogador que tem tudo para ter muito tempo em quadra. Peço para que você esqueça necessariamente se acredita que ele será uma grande estrela ou um grande jogador e foque no cenário. O Washington Wizards fez questão de draftá-lo com a segunda escolha e ele fez questão de ir para o Washington Wizards. Enxergo que ele terá bastante tempo entre as saídas de Daniel Gafford e Deni Avdija. Hoje, o contrato de Kyle Kuzma é extremamente atrativo e ele também pode acabar saindo da franquia da capital num futuro próximo.
Chegamos em Stephon Castle. Talvez a concorrência seja maior. O Spurs agora tem Chris Paul na armação, mas o Point God há tempos não é aquele atleta com muita saúde para ficar muito tempo em quadra. Será que Castle consegue entrar no pelotão de atletas que revezaram a armação do time no ano passado?
Isso restringiria a concorrência de Castle a Tre Jones, Devin Vassell e Keldon Johnson. Tre é um jogador que tende a não ter muitos minutos, Vassell não é armador (e, mesmo assim, o Spurs o colocou em 298 minutos em quadra na posição no último ano) e Keldon é mais um ala, apesar dos rumores do rapaz ter perdido peso. Castle é um cara que ainda tem um chute errático e talvez não vá ter tanto tempo fora de posição que não precise da bola. É um cenário mais nebuloso que o de Alex Sarr, mas ainda assim pode ser uma aposta válida.
Finalmente, os ainda meio fora do radar
O primeiro é Mata Buzelis. O ala de 2m08 pode encontrar muito espaço na rotação do Chicago Bulls. Segundo o site 82games, o 4 mais utilizado pelo time no ano passado foi DeMarr Derozan. Num primeiro momento, o mais experiente Patrick Williams deve ser o maior beneficiado dessa saída. Mas, claro, Buzelis pode acabar sendo utilizado em algum momento. Pra mim, fica bem dúbio se ele terá capacidade de permanecer 30 minutos em quadra nessa NBA. Buzelis ainda é muito leve, talvez ainda não tenha a força necessária pra acompanhar os 4 pujantes dessa liga. De qualquer modo, o Bulls é um time muito enfraquecido de frontcourt, então não ficaria surpreso de vê-lo bastante tempo em quadra.
Totalmente fora do radar, eu tenho um palpite ousado: Yves Missi, do New Orleans Pelicans. A rotação atual na posição de pivô do time é, além dele, Trey Jemison, Daniel Theis e Karlo Matkovic. Isso aqui não é um grande palpite querendo dizer que eu sou o diferentão, mas, lembre-se, estamos considerando jogadores que podem ter grandes oportunidades de minutagem e, nesse cenário dos Pelicans, Missi acaba entrando nessa possibilidade.
O novato geralmente pontua bem
Dos pilares que estabelecemos na análise, percebemos que os vencedores do prêmio, geralmente, são caras relevantes no ataque também.
No cenário da gente, podemos destacar a ineficiência de Mike Miller, marcando somente 11,9 pontos por jogo. Era uma classe fraquíssima, na qual o segundo mais votado foi Kenyon Martin com 12 pontos de média e 7,4 rebotes. Até hoje, difícil entender esse prêmio, visto que Miller não se destacou nem na tábua cheia das estatística, como vocês podem ver nos dados de PRA no gráfico (soma dos pontos, rebotes e assistências).
Voltou a acontecer algo parecido em 2003, mas com resultado diferente. Caron Butler foi o maior pontuador entre os novatos, mas os 2 pontos de média a mais que Amare Stoudemire e Yao Ming não foram suficientes para tirá-lo de trás dos dois atletas na votação. Amare acabou levando com 13,5 pontos e 8,8 rebotes de média.
Depois, tivemos uma sequência considerável de novatos que pontuaram pelo menos 15 pontos por jogo levando o prêmio. Nem todos foram os cestinhas do ano, mas muitos casos são decididos nas casas decimais, como LeBron contra Carmelo no prêmio de 2004.
ROY 03-04 | Pontos | Rebotes | Asts | Votos 1º |
---|---|---|---|---|
LeBron James | 20,9 | 5,5 | 5,9 | 78 |
Carmelo Anthony | 21 | 6,1 | 2,8 | 40 |
Nem sempre o dito melhor jogador é o premiado
Só viemos a ter novamente um não-pontuador levando o prêmio em 2017. O troféu ir para Malcolm Brogdon nos trouxe mais insumos sobre como uma classe fraca pode tirar o trabalho de análise para um simples jogo de sorte.
Mas, como somos teimosos, a gente consegue tirar alguns pontos relevantes dessa votação. É interessante ver que foi somente nesse ano que Joel Embiid conseguiu participar do prêmio, apesar de ter sido draftado em 2014. Isso mostra o que falamos anteriormente com Ja Morant e Zion Williamson é algo recorrente e que o resultado costuma ser o mesmo. Apesar de números muito superiores aos de Brogdon, Embiid ficou apenas em 3º na votação com seus poucos jogos.
ROY 16-17 | Pontos | Rebotes | Asts | Partidas | Votos 1º lugar |
---|---|---|---|---|---|
Malcolm Brodgon | 10,2 | 2,8 | 4,2 | 75 | 64 |
Dario Saric | 12,8 | 6,3 | 2,2 | 81 | 13 |
Joel Embiid | 20,2 | 7,8 | 2,1 | 31 | 23 |
Mas não é só isso que importa, afinal. Como podemos ver, via de regra, o novato do ano vai ter uma pontuação expressiva. E aí, João? Como definir um caminho para seguir?
Bônus track: Espremendo os dados
Essa seção do artigo oferece um pouco de devaneio para tentar finalizar nossos palpites. Fique à vontade para seguir para a próxima.
Voltemos ao PRA. Esse somatório de Pontos, Rebotes e Assistências pode ajudar na leitura. Numa classe tão aberta quanto a do draft de 2024, talvez o vencedor do prêmio de Novato do Ano não vá ser um grande cestinha.
Para tentar ajudar na análise, fiz uma outra medição com nosso universo de jogadores premiados. Dividi nossos 24 laureados em períodos de 4 em 4 anos. Assim, a gente consegue acompanhar eventuais tendências mais detalhadas nessas votações. Lembra quando falei que não faria sentido pegar dados de 40, 50 anos atrás para tentar agregar aqui? Agora, estamos dividindo esse espaço amostral de uma outra forma para que possamos entender se as tendências estão mudando ainda mais rapidamente nessa NBA atual.
período | pontos | P+R+A | média diferença |
---|---|---|---|
01-04 | 15,97 | 25,6 | 9,62 |
05-08 | 17,07 | 27,05 | 9,97 |
09-12 | 19,47 | 31,05 | 11,57 |
13-16 | 17,72 | 28,05 | 10,32 |
17-20 | 16,25 | 28,32 | 12,07 |
21-24 | 18,1 | 30,12 | 12,02 |
O que a gente pode ver é que até por volta de 2012, a média de pontuação só aumentou. Dentro dessas duas épocas, temos os dois jogadores que venceram o prêmio com as menores diferenças de PRA para os pontos. Ou seja, os jogadores que mais dependeram de pontuação para levar a premiação: Mike Miller (5,7), numa classe horrível e Kevin Durant (6,8), um dos maiores pontuadores da história. Depois deles, somente outros dois jogadores ficaram muito longe de um diferencial de 10 (a média dos períodos é 10,93). Abaixo, separei uma lista dos premiados que mais dependeram dos pontos.
Vencedor | Pontos | Diferencial |
---|---|---|
Mike Miller (2001) | 11,9 | 5,7 |
Andrew Wiggins (2015) | 16,9 | 6,7 |
Kevin Durant (2008) | 20,3 | 6,8 |
Malcolm Brogdon (2014) | 10,2 | 7 |
Brandon Roy (2007) | 16,8 | 8,4 |
Então, João, tu falou, falou, falou e não disse nada. Bem, talvez sim. Mas a ideia aqui é entender os cenários. Vejamos que nas vezes que os pontos marcados não foram tão distantes do restante da contribuição, nós tivemos cenários bem específicos.
Mike Miller e Malcolm Brogdon em classes fracas foram destaques. O primeiro, pontuou e teve relevância num time ruim. O segundo, teve consistência e teve um pouco mais de contribuição de outras estatísticas. Andrew Wiggins não entra bem nessa categoria, já que teve uma classe mais recheada. Passou por cima de Jabari Parker, Julius Randle, Marcus Smart e outros.
Brandon Roy, finalmente, era um talento acima da classe também e também enfrentou uma classe fraquíssima. No Draft daquele ano, o Top 5 teve Andrea Bargnani, LaMarcus Aldridge, Adam Morrison, Tyrus Thomas e Shelden Williams. Ou seja, o João de 2006 provavelmente cortou boa parte desses favoritos ao prêmio na época. Segundo o SportsOddHistory, Roy era o favorito assim que o mercado abriu.
O caso à parte é de Kevin Durant. Primeiro de tudo, precisamos considerar que ele é um ET. É um jogador geracional, então já foge completamente da análise para essa classe, que não deve ter ninguém nessa mesma categoria. Ele só está nessa listagem porque ele pontuou muito bem como novato. Somente 7 dos nossos eleitos para a lista conseguiram ultrapassar os 20 pontos na temporada de estreia e os outros 6 tiveram contribuições muito grandes nos outros atributos, por isso não apareceram aqui.
Finalmente, percebam que o padrão nos dois últimos quarters foi de 12,5 RPA a mais que os pontos marcados. Ou seja, cada vez mais a gente vê uma tendência de jogadores que conseguem contribuir em pelo menos um atributo ou dividir essa contribuição entre rebotes e assistências.
Terminado o devaneio, voltemos à trilha normal.
E como saber quem vai performar?
Aí está a questão de um milhão de dólares. Mas vou me ater a um item de estatística que pode dar algum norte para a gente: o %FGA, ou seja, o percentual de bolas que foram finalizadas por um jogador enquanto ele esteve em quadra.
Fui atrás do Memphis de 22-23, que jogava com um pivô mais tradicional, à procura da relevância de Steven Adams no ataque. Enquanto esteve em quadra, Adams foi responsável por 11,8% dos arremessos do time. Não parece que isso vá mudar muito. Nessa mesma temporada e nessa mesma estatística, Ja Morant ficou com 32,7% dos arremessos. Já em 23-24, sem Morant quase o tempo inteiro, o líder do time foi JJJr, com 30,2% dos arremessos partindo dele e Desmond Bane tendo a honra de chutar 28,7% das bolas enquanto esteve em quadra. Descendo a lista, achamos Santi Aldama, com 19,3% do volume do jogo. Repito: não acredito que Edey vai superar nenhum desses nomes.
O Houston também pode oferecer um desafio para Reed Sheppard. O próprio Fred VanVleet não chegou perto de altíssimos números esse ano, cravando 20,4% dos ataques da franquia enquanto esteve em quadra. Jalen Green é o líder do time, com 27,2% das finalizações vindo dele e o futuro All-Star Alperen Sengun monopoliza 25,7% das oportunidades de chute.
Contudo, isso não é necessariamente o fim da linha para Sheppard. Aaron Holiday, a quem ele deve substituir na rotação, teve 17,3 %FGA no último ano, número até digno. Ao mesmo tempo que talvez ele não tenha grandes chances de finalizar sempre, Sheppard vai ter uma oportunidade de compartilhar a bola. VanVleet foi responsável por 41,4% das assistências do Houston enquanto esteve em quadra e, ao lado de Sheppard, talvez ele possa equilibrar mais o papel de finalizador e criador.
A brincadeira começa a ficar legal novamente para Alexandre Sarr. O time do Washington fez partir Deni Avdija, responsável por 18,8% do arremessos tentados enquanto esteve em quadra. Óbvio que um nome como Bilal Coulibaly pode pegar parte dessa fatia, mas o time também viu a partida de Daniel Gafford, que como um bom pivô de trabalho sujo, viu 12,7% dos arremessos sendo finalizados por ele. Mas isso é só um lado da moeda, porque os líderes desse Washington foram Kyle Kuzma (30,2%) e Jordan Poole (26,3%). Com a adição de um armador mais tradicional em Malcolm Brogdon, espera-se que esses dois não sejam tão demandados de finalizar nesse volume, mas que haja uma maior distribuição da bola.
Situação ainda melhor é a de Zaccharie Risacher. O Atlanta fez sair Dejounte Murray (27,2%), que superou até Trae Young nas bolas finalizadas e também Saddiq Bey (17,4%). Por mais que o time veja um crescimento de nomes como Jalen Johnson (19,4%) e até alguns mais inesperados, como Kobe Bufkin, é esperado que Risacher seja muito usado.
Outros nomes que devem ter uma chance: Matas Buzelis (DeRozan saiu do time) e Ron Holland (Detroit teve muitos nomes aparecendo com oportunidade ano passado)
E ainda tem a narrativa…
Absolutamente todo prêmio individual em qualquer esporte conta uma história. Primeiro de tudo, não existe propriamente um parâmetro absoluto. O cestinha da temporada é quem teve a melhor média de pontos. É objetivo, claro, direto. Os prêmios individuais não.
Todo esse trabalho que fiz aqui dão alguns indícios de como pode ser que os votantes enxerguem o prêmio. Óbvio que eu posso cometer os maiores erros do universo e simplesmente não acertar uma previsão que tenha feito aqui. Acontece.
Mas o natural é que a gente acerte algo.
Para mim, existe uma clareza no que Edey será para o Memphis e isso, na minha análise, não bate com a história do prêmio. Eu ainda tenho ressalvas bem grandes ao tamanho, ao tempo que ele ficará em quadra e, além de tudo, ao histórico de lesão de atletas que possuem o tamanho e peso dele. Eu não acho que ele estará no Top 3 dessa votação.
Reed Sheppard é um cara que começo a gostar à medida que o tempo passa. Ele pode contribuir de formas diferentes e está num time que pode ir mais longe nessa temporada. Às vezes ele pode ser um dos fatores ao qual se atribui esse passo além. Particularmente, não é meu favorito, mas eu consigo enxergar os votantes se apaixonando pela história.
Os meus favoritos no momento são Zaccharie Risacher e Alexandre Sarr. O primeiro terá todas as oportunidades possíveis. Ele vai ter termpo de quadra, ele vai ter um dos melhores criadores de assistência da NBA. Ele vai ter um time que precisa que ele renda algo e que não vai soltar da mão dele logo de cara. Quase tudo isso se aplica também a Alexandre Sarr. A vantagem dele pode ser o Wizards trocando um cara como Kuzma a dando ainda mais espaço para o rapaz.
Por fora, pra mim, corre Mata Buzelis. Particularmente, não entendi bem as movimentações do Bulls na offseason, mas eles vão ter que fazer Zach LaVine render e permanecer em quadra, numa tentativa de valorizá-lo novamente e também terão que dar muito tempo a Josh Giddey, que veio a peso de ouro. Somado a isso, o time ainda precisa dar continuidade ao crescimento de Coby White, que floresceu finamente, e de Patrick Williams, que tem tudo pra ser o Coby White dessa temporada. Eu gosto do Buzelis, mas não sei se ele terá o mesmo espaço que os outros que citei.
Nesse perfil, Ron Holland também encaixa, mas, considerando que o Pistons precisa arrumar a casa, fazer Cade e Duren crescer de vez antes de sonhar com algo mais, seria um achismo muito grande cravar que ele tem chances.
Hoje, meu palpite para o top 3 da votação é:
- Zaccharie Risacher, Atlanta Hawks
- Alexandre Sarr, Washington Wizards
- Reed Sheppard, Houston Rockets
A ideia é que esse artigo seja sempre atualizado e que a gente aproveite os movimentos do mercado.
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