Imposto de Renda: os vencedores e perdedores após a offseason da NBA

Quando uma temporada da NBA termina, começa uma estação agitada. Aquela em que as franquias fazem suas movimentações, seja contratando, trocando ou através do draft. Para cada movimento real, são dezenas, centenas de fofocas, rumores, simulações na trade machine… que tomam as redes sociais, a imprensa, e servem de combustível para manter a chama da liga acesa até outubro chegar.

Mas entre todos os pormenores que são discutidos nessa “gloriosa” época, existe um que nem sempre é tão lembrado: como podem pesar as diferenças de taxação entre os países, os estados e as várias cidades que sediam as franquias da liga.

Seja por necessidades particulares, para atrair residentes e empresas, ou simplesmente para exercer sua autonomia, garantida pela Constituição, cada estado americano pode determinar seu próprio sistema de taxação. O Toronto Raptors, obviamente, está sujeito às leis do Canadá e da província de Ontario, e sua integração à liga está resguardada por um acordo bilateral entre os países.

O mapa do IR na NBA

No que diz respeito à tributação sobre a renda, há um imposto federal de 37%, comum a todos os estados. 41 deles também coletam taxas estaduais (ou distritais, no caso do Wizards). Para os miliionários atletas da liga, essas diferenças podem facilmente chegar à escala dos nove ou até dez dígitos – alô, Paul George.

Aqui estão algumas histórias dessa offseason em que diferenças significativas de tributação impostos certamente foram ponderadas por times, jogadores e seus agentes.

EstadoTaxação total
sobre a renda (%)
Ontario, Canada46,76
New York46,04
California45,38
Oregon45,17
Minnesota44,74
District of Columbia43,77
Wisconsin42,75
Massachusetts42,67
Colorado42,37
Illinois42,36
Michigan41,13
Pennsylvania41,04
Ohio40,72
Georgia40,46
Indiana40,16
Oklahoma39,99
Utah39,93
North Carolina39,84
Louisiana39,68
Arizona38,58
Florida37,00
Texas37,00
Tennessee37,00
Fontes: SmartAsset.com, TaxFoundation.org

Os vencedores

  • Klay Thompson

Depois de todos os seus anos como atleta profissional em um dos estados com maior carga tributária no país, Klay Thompson terá a oportunidade de conhecer o extremo oposto do espectro da taxação.

Ao assinar com o Dallas Mavericks em busca de um recomeço, Klay baixou sensivelmente sua pedida salarial em comparação com os valores que recebeu em seu último contrato com o Golden State Warriors, que passavam dos $ 40 milhões anuais.

*Fonte: The Athletic

A escolha dele pelo Mavs mostra que dinheiro não era sua prioridade máxima – basta lembrar do contrato que Orlando ofereceu a Kentavious Caldwell-Pope (3 anos, $ 66M). Caso o especulado interesse do Magic fosse retribuído por Klay, esse contrato possivelmente estaria disposição de Klay, caso houvesse reciprocidade no especulado interesse do Magic.

Mas como ele aparentemente optou por “sacrificar” esses milhões pelo privilégio de jogar com Luka e Kyrie no finalista da última temporada, as regras fiscais no Texas certamente vão mitigar um pouco essa sua queda de realidade salarial.

  • Harrison Barnes

No último verão, Barnes renovou seu contrato com o Kings, vindo de uma temporada histórica para a organização, de volta aos playoffs após 13 anos. Agora, por facilitar a troca que mandou DeMar DeRozan para Sacramento, o San Antonio Spurs assume os dois anos finais desse vínculo, originalmente assinado por $ 54 milhões.

Reconhecido pelos seus pares como um dos principais “homens de negócios” entre os atletas da liga – em 2021, ele foi eleito Secretário-Tesoureiro da Associação de Jogadores (NBPA) -, Barnes abriu mão de um trade kicker de 10% sobre o valor restante do seu contrato (a bagatela de $ 3,6 milhões). Segundo ele, não foi uma decisão difícil.

“Havia definitivamente opções onde isso [o trade kicker] era um fator, se seria renunciada ou não […] para ter a oportunidade de vir para San Antonio, foi uma decisão bem fácil para mim.”

A decisão pode ser discutível, mas fica mais compreensível quando se leva em conta as diferenças entre a taxação no Texas e na Califórnia: ele topou “investir” parte do trade kicker para jogar em uma situação mais favorável, com Wembanyama, CP3 e sob as ordens de Gregg Popovich, onde ele ainda deve receber praticamente o mesmo valor ao qual teria direito no Kings.

Engenhoso, mas não dá para dizer que não faz sentido.

  • Isaiah Hartenstein

Um dos agentes livres mais cobiçados da offseason, Hartenstein foi um dos destaques do New York Knicks na última temporada. Ele conseguiu desbancar Mitchell Robinson como titular na rotação de Tom Thibodeau, e manteve a regularidade nos momentos mais agudos da pós-temporada.

Segundo o jornalista Brian Windhorst, da ESPN, Hartenstein tinha apenas mais uma oferta em sua mesa antes de fechar com New York, em 2022. Não foi o caso agora: diversos times o procuraram, a começar pelo próprio Knicks, que ofereceu tudo que podia.

Eles só não puderam concorrer com todo o espaço que o Oklahoma City Thunder tinha em seu orçamento.

Em Oklahoma City, ele chega como “a mais importante” contratação de um agente livre na história do Thunder, nas palavras deste repórter que deixaram o grandalhão todo encabulado.

Além disso, ele vem para ser um diferencial na defesa interior em uma equipe que parece um dos mais fortes candidatos ao título do Oeste. Certamente, em Nova Iorque, haveria mais holofotes. Mas se isso é estar numa pior…

  • Paul George

Um dos expoentes da atual geração de atletas podcasters, Paul George usou seu Podcast P para contar, em detalhes, o seu lado da história de sua negociação frustrada com o Los Angeles Clippers.

Em suma, George diz que se sentiu desrespeitado.

Primeiro, pela hesitação da franquia em se comprometer com alguém amplamente visto como o arquétipo perfeito do ala two-way. E por fim, pela oferta de $ 150M por três temporadas, que foi interpretada pelo jogador como um sinal de que ele não era visto como parte do futuro da franquia.

Depois disso, ele se viu forçado a escutar outras propostas. E não demorou até que ele estivesse sendo anunciado por Woj como reforço do Sixers.

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Os perdedores

  • Caleb Martin

Mesmo que tivesse ido jogar num paraíso fiscal, e não precisasse mais pagar imposto nenhum, dificilmente Caleb Martin conseguiria uma oferta mais lucrativa do que a que recebeu do Miami Heat.

Ele teve a chance de assinar por $ 65M – o triplo de tudo que recebeu até aqui na carreira, isento de impostos estaduais e locais. Mas… não se impressionou com a oferta. Decidiu encerrar sua passagem por Miami para receber essencialmente a metade, pela oportunidade de jogar ao lado de Joel Embiid, Paul George e Tyrese Maxey.

“Nada foi realmente fácil para mim em meu caminho para chegar até aqui. Eu acho que encaixo perfeitamente na maneira como as pessoas levam a vida todos os dias por aqui, o ambiente, a cultura daqui… não apenas na organização, mas na cidade”, explicou ao se apresentar na Pennsylvania.

É comum ver jogadores da NBA “apostando em si mesmo”, mas essa decisão de Martin… digamos que ela leva o conceito ao extremo.

  • Derrick Jones Jr.

Ele era a prioridade “1A e 1B” do Mavs na offseason, segundo Nico Harrison, presidente de operações de basquete da fraquia.

Quando Derrick Jones Jr. chegou a Dallas, no verão passado, a expectativa era que ele fosse “mais uma peça” na rotação. Uma alternativa de defensor de petrímetro, bem como do “ponto de ataque”, pelo custo de um contrato mínimo – uma teporada, $ 1,5M.

Um valor que foi largamente excedido pelo seu desempenho em quadra. Sua regularidade e versatilidade posicional fizeram dele um dos principais defensores de Dallas, de maneira que Derrick terminou a temporada como um dos contratos de melhor valor em toda a liga

Quando perguntado, ao longo da temporada, em várias ocasiões, ele deu sinais de que gostaria de continuar em Dallas, que lhe fez a mesma oferta que posteriormente seria aceita por Naji Marshall: 3 anos, $ 27M.

No entanto, a confirmação da contratação de Klay Thompson o fez enxergar no LA Clippers uma melhor oportunidade para continuar como titular – ainda que vá receber efetivamente menos, se consideradas as diferenças de taxação entre o Texas e a Califórnia.

  • Joe Ingles

O australiano chegou a Orlando após assinar um belo contrato de duas temporadas por $ 22M, para ser aquela presença veterana capaz de guiar um elenco talentoso e promissor, mas muito jovem.

Ele ainda foi capaz, aos 36 anos, de se manter em quadra, participando de 68 partidas. No entanto, Ingles teve também sua pior temporada em termos estatísticos, com médias de 17,2 minutos e apenas 4,4 pontos por jogo. Isso bastou para que o Magic resolvesse não exercer sua opção de renovação.

Para a próxima temporada, cercado de dúvidas sobre seu futuro na NBA, ele assinou pelo mínimo de veterano com o Timberwolves. Lá, ele se reencontrará com seus antigos parceiros de Utah Jazz, Mike Conley e Rudy Gobert…. e quem sabe, também com o seu próprio basquete – em um dos estados onde a taxação é mais pesada no país.

  • Tim Hardaway Jr.

Entre bons e maus momentos, TIm Hardaway Jr foi um funcionário leal do Dallas Mavericks nas últimas seis temporadas. Ele pode, por exemplo, bater no peito e dizer que foi um dos poucos a iniciar jogos como titular ao lado de Dirk Nowitzki e, depois, Luka Doncic.

Mas depois de um início de temporada consistente, ele gradualmente perdeu espaço, especialmente depois das aquisições de PJ Washington e Daniel Gafford, que o jogaram para o fundo da rotação. Desde então, ele não conseguiu mais recuperar o espaço de outrora.

Até que, poucos dias depois do encerramento da temporada, Dallas finalmente achou no Detroit Pistons um parceiro com espaço suficiente no cap para abrigar o “suculento” contrato de Hardaway Jr, recebendo de volta o versátil Quentin Grimes e abrindo o espaço que viabilizou a chegada de Klay Thompson.

Ao jogador, só restou pagar mais impostos para jogar em um time ruim: as diferenças fiscais entre Texas e Michigan lhe tomarão cerca de $ 700 mil no valor que ainda tinha a receber em seu contrato. Dias melhores virão, Tim.

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