“Ainda não podem me deixar desmarcado”: Klay Thompson se apresenta em Dallas

Como Dallas poderia ter oferecido mais resistência ao Boston Celtics nas últimas finais? O que terá faltado? Para Klay Thompson, alguém exatamente como ele. “Eu estava assistindo [às Finais] como um fã de basquete, e eu via, tipo, cara, eu podia ajudar bastante esse time”. Foi com essa confiança que ele se apresentou, nesta última quarta-feira, em sua primeira aparição como jogador do Mavericks, após assinar contrato de $50 milhões pelas próximas três temporadas.

Mostrando sua animação e leveza características – o que vinha sendo meio raro nos últimos anos -, ele explicou por que enxerga em Dallas uma oportunidade perfeita para essa reta final de sua carreira.

“Seja no basquete, ou no mundo corporativo, onde quer que seja. Uma mudança de cenário pode pode ser um estímulo, pode fazer maravilhas. Sou muito grato pelo meu tempo em Golden State, mas senti que mover em frente poderia me reenergizar, me permitir fazer algo especial pelo resto da minha carreira, e Dallas foi muito atrativa. Pelos jogadores jovens que eles têm, pelo estilo de jogo, pelo tratamento de classe mundial que esses jogadores recebem dessa organização. Uma cidade linda que ama basquete.”

Ele seguiu elogiando o time, os jogadores e a energia com que eles se entregam durante as partidas. E comentou ainda sobre o interesse demonstrado pela organização, algo que parece ter sido o principal fator na decisão tomada por Thompson.

“Eu me vi encaixando muito bem nesse time, nesse elenco. Eles parecem se divertir jogando uns com os outros. Eles jogam uns pelos outros, e isso foi muito atrativo pra mim, era tudo que eu precisava ver. Houve esse interesse mútuo, e é por isso que estou aqui.”

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A relação com Kyrie

Outro fator que provavelmente pesou bastante para ele, foi a possibilidade de atuar com Luka Doncic e Kyrie Irving, os astros que conduziram o time até as Finais na última temporada.

Com Kyrie, em especial, ele já tem uma longa história. Segundo ele, uma relação de amizade, que nasceu quando os dois tiveram a oportunidade de atuar juntos pelo Team USA, inclusive nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Mas como não podia deixar de ser, ele também fez referência a momentos imensamente mais memoráveis, nos quais eles compartilharam a quadra… só que em lados opostos.

Kyrie e eu somos bons amigos. Quero dizer, entramos na liga juntos em 2011. Jogamos na equipe dos Estados Unidos juntos duas vezes. Obviamente, jogamos um contra o outro nos maiores palcos por muitos anos, e eu sempre fui fã do jogo do Ky. Marcá-lo era um inferno, então é bom estar do outro lado disso pela primeira vez e ver outros defensores se perderem e ficarem confusos com ele. Vai ser algo incrível de se ver.”

Também foi reportado sobre o interesse com que Klay assistiu à virada na narrativa sobre Kyrie: depois de todo o drama em Boston e Brooklyn, a “paz interior” que ele achou no Texas. Ele revelou ter ouvido coisas muito positivas de seu novo companheiro.

“Ele foi realmente uma das primeiras pessoas a me mandar uma mensagem dizendo o quanto está grato por estar aqui e como a cidade o acolheu, a organização o acolheu, especialmente depois do que ele teve que passar”, ressaltou.

Luka, destinado à grandeza

Já sobre o astro esloveno, o tom foi de reverência. Klay fez questão de mostrar que já acompanhava a evolução do então adolescente que já brilhava no Real Madrid.

“Mesmo antes de chegar à NBA, você via os highlights na EuroLeague… esse garoto de 18 anos fazendo isso com homens crescidos? É loucura. O impacto que ele teve como rookie, dava para ver que ele estava destinado à grandeza. Tenho quase certeza que ele meteu um triplo duplo contra nós lá na Oracle [Arena] em 2019, como rookie”, lembrou.

“Não acho que vimos isso desde LeBron [James] ou [Tim] Duncan.

Ele revelou que já está em contato com Luka, que está de férias na Eslovênia após defender sua seleção e ser derrotado pela Grécia de Giannis Antetokounmpo na final do Pré-Olímpico de Atenas. “[Dončić] me mandou uma mensagem dizendo o quanto está empolgado, e eu transmiti a mesma mensagem de volta e acho que definitivamente há um respeito mútuo ali.”

Segundo Tim MacMahon, que cobre o Dallas Mavericks pela ESPN, a animação é mesmo recíproca. Meu entendimento é que Luka está realmente radiante. Eu sei que as pessoas deste lado do Atlântico estão extremamente empolgadas”, ele disse em uma edição recente do podcast Brian Windhorst and the Hoop Collective.

Flores para J-Kidd

Thompson não escondeu um certo fascínio em ser treinado por alguém que ele cresceu idolatrando. “Tipo, é o Jason Kidd. Vocês já viram os melhores momentos dele? Ainda estão por aí”, brincou. Ele encheu a bola do treinador, dizendo que ele era capaz de dar passes que ele ainda não viu Luka fazer.

“Só aprender com um Hall da Fama como ele […]. Ele simplesmente tem uma mente para o basquete, e sei que todos estão empolgados em jogar para ele. Estou ansioso para perguntar como foi marcar o Michael [Jordan], depois marcar o Kobe [Bryant], e eu tenho muitas perguntas para ele, de verdade, porque eu cresci assistindo a toda essa era.”

Coadjuvantes entusiasmados

Ao seu lado, também eram apresentados Naji Marshall, agente livre contratado por 3 anos e $27 milhões, e Quentin Grimes, que veio para Dallas na troca que enviou Tim Hardaway Jr. para Detroit. Os dois não tentavam esconder a empolgação de estarem ao lado de alguém que, mais do que um jogador vencedor e referência no que faz, é uma verdadeira celebridade.

“Eu saí dizendo para todo mundo: vou ganhar um anel”, contou Grimes. “Um dos maiores arremessadores de todos os tempos… para mim que também sou um arremessador, eu vou aprender com ele todos os dias”.

“Temos um grupo bom, e quando conseguimos Klay, eu fiquei tipo, ‘o céu é o limite’.”

Quentin Grimes

Quando soube que Thompson havia fechado com o Mavs, Naji contou que não agiu muito diferente. “Eu disse a todo mundo que nós vamos ganhar o campeonato”, recordou.


A última temporada não foi muito positiva para Klay. Ainda que tenha eliminado questões sobre sua saúde ou durabilidade, em quadra, sua importância diminuiu gradualmente. Até que, depois de muito mexer na rotação, Steve Kerr encontrou um certo equilíbrio – com Thompson vindo do banco, abrindo espaço para a ascensão do calouro Brandin Podziemski.

Essa foi talvez a principal história (ou seria novela?) de uma temporada frustrante para o Warriors. Ao longo do ano, enquanto o time acumulava atuações questionáveis, o que rolava em quadra muitas vezes era deixado em segundo plano pelas câmeras.

As atenções se voltavam, então, para um Klay que, sentado no banco, deixava transparecer, em seu semblante e sua linguagem corporal: ele não estava confortável.

Klay viveu os últimos 13 anos de sua vida, toda a sua carreira, sendo parte importante da alma de uma dinastia, primeiro em Oakland, depois em San Francisco. Adorado pelos fãs em Golden State. Só que os últimos anos não vinham sendo fáceis. Primeiro, a lesão no joelho esquerdo. Depois, no tendão de Aquiles do pé direito.

Tempo total longe das quadras: dois anos e meio.

O título de 2022 trouxe de volta a certeza de que ele ainda conseguia competir, e vencer, na elite. Mas desde então, a imagem passada por Klay Thompson tem sido a de um jogador já distante dos seus melhores anos.

E enquanto sua performance em quadra não empolgava, ele também não conseguia chegar a um acordo para um novo contrato com o Warriors.

Negociações frustradas – e frustrantes

A questão nunca foi exatamente dinheiro. Segundo Ramona Shelburne e Malika Andrews, da ESPN, ele já havia “se sentido desrespeitado” por não ter recebido uma oferta de renovação logo após o troféu – semelhante ao contrato oferecido a Draymond Green, de $100 milhões por quatro anos.

“Esse sentimento apenas se aprofundou no verão seguinte, quando Golden State só estava disposto a oferecer contratos de dois anos, na faixa de $23 a 24 milhões.”

Ainda segundo a reportagem, o entorno de Thompson continuou buscando diálogo com Golden State, fazendo quatro diferentes ofertas à franquia, a última delas de $40 milhões por dois anos. O Warriors, no entanto, não tinha tanta pressa: queria que ele esperasse para que o front office pudesse fazer outros movimentos. Nessa altura, Klay finalmente decidiu olhar ao redor e buscar outras opções.

A partir daí, o que pesou mesmo foram a assertividade e perseverança de Nico Harrison e, especialmente, Michael Finley, o antigo All-Star, atual presidente de operações de basquete do Dallas Mavericks.

O autêntico Klay

Era para ser um encontro de negócios. Mas segundo publicado por Sam Amick, do The Athletic, quando Klay Thompson se sentou no restaurante Bottle inn de Hermosa Beach, na Califórnia, para ouvir a proposta do Mavs, sua atenção imediatamente se focou em Finley.

Thompson não hesitou em perguntar ao presidente de operações de Dallas “sobre sua carreira, e a era old-school em que ele jogou, sobre a cena de Dalas e a vida no Texas, os fãs do Mavs e o ambiente na arena”. De acordo com Amick, essa curiosidade do jogador pareceu tão genuína, que os dirigentes do Mavs enxergaram naquela figura “o autêntico Klay”: você sabe, aquele personagem carismático e aleatório que os fãs da NBA aprenderam a amar.

Na apresentação, Michael Finley deu a entender que vai continuar estreitando sua relação com o Thompson. “Vou conversar mais com ele sobre a experiência e a liderança de veterano que ele pode trazer para o time”, afirmou.

Para Klay, o tempo da incerteza finalmente acabou. Pelos próximos três anos, ele tem uma casa nova, um novo papel, novos desafios e uma missão clara: ser o diferencial entre o Mavs finalista do último ano, e o Mavs campeão em um futuro próximo… o mais próximo possível.

Se o que o distanciava do seu melhor basquete eram a infelicidade, o sentimento de injustiça e de desrespeito, isso tudo agora faz parte do passado – assim como todos os grandes momentos que ele viveu na Califórnia.

Ainda não podem me deixar livre, e eu posso defender, e estou muito animado. Ainda acho que posso fazer o que sempre fui capaz de fazer, e é só uma questão de estar na melhor forma possível. Mas eu sei que posso ajudar este time, seja com o conhecimento que adquiri ou em noites de grandes pontuações. Eu ainda sei que posso ser um jogador muito, muito bom nesta liga.

Klay Thompson, enfim, está empolgado com o futuro. E mais importante: em paz para recomeçar.

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