Novos amigos: algumas notas sobre a nova era de acordos de TV da NBA

Artigo atualizado em 03/09/2024

Muito tem se falado sobre a transição em que a NBA se encontra. São, afinal, os últimos anos da geração que teve nas figuras de Kevin Durant, LeBron James e Stephen Curry as suas maiores estrelas. Só que essa transição não é a única, nem a mais urgente – os três ainda têm contrato para além de 2025 – para a liga. A temporada marca, no mercado norte-americano, o último ano da cobertura da TNT, antes de entrar em vigência o novo acordo de TV da NBA, anunciado pela liga no fim de julho, que incluirá a Amazon.

A NBA vai receber, ao todo, $ 77 bilhões até o fim da temporada 2035/36 pelo acordo que, além da gigante da tecnologia, também preseva os direitos da Walt Disney Company, e dá espaço a uma nova casa para a liga com a entrada da NBCUniversal, que pagará $ 2,45 bilhões anualmente para transmitir jogos na NBC e através da plataforma Peacock..

A Amazon vai transmitir 66 jogos da temporada regular, incluindo a NBA (Emirates) Cup e os playoffs, além de transmitir a temporada regular e a pós-temporada da WNBA. Aparece também como novidade o Black Friday Game.

Já o que não muda é a presença da Walt Disney Company, que mantém o direito de transmitir a liga através da ESPN e da ABC durante as Finais.

TNT fora da NBA

Enquanto as negociações rolavam, o que a comunidade do basquete mais comentava era o fim, agora anunciado oficialmente, do icônico programa Inside the NBA. Esse grande ícone da TV está prestes a completar 36 anos no ar. Palco de cenas inesquecíveis, de memes antológicos antes mesmo da ideia de “meme” existir. O programa favorito de quase todo fã de basquete era composto por Ernie Johnson, Charles Barkley, Kenny “The Jet” Smith e Shaquille O’Neal vai fazer sua “última dança”.

O destino de seus participantes ainda é incerto. Johnson, o apresentador, deve ficar e ser utilizado em outros produtos que a emissora ainda terá em sua programação. É provável que o vejamos em transmissões como o torneio de basquete da NCAA ou os jogos da MLB.

Barkley, que não costuma medir as palavras, já criticou a NBA por ter aceitado a oferta da Amazon, mesmo após a TNT ter igualado os valores.

Ele também já falou que se aposentaria após as Finais. No entanto, a declaração foi tida por muitos como uma cartada para “se valorizar” em futuras negociações. Há dois anos, Chuck havia assinado um contrato de 10 anos com a TNT, mas ele recentemente revelou em um programa que possui uma cláusula que pode lhe render $ 10 milhões, caso ele decida acioná-la para pedir o boné.

E os outros?

Quanto ao “Jet”, ainda não se sabe sobre seu futuro na TV. Mas desde abril, ele já está com um novo trampo. Foi contratado pela liga australiana de basquete (NBL) para o cargo de Head of Next Stars’ Player Initiatives.

Shaq, por sua vez, continuará sendo Shaq. Uma personalidade ímpar no mundo dos esportes, um dos bigs mais dominantes de todos os tempos e um dos 75 maiores jogadores da história da NBA.

A TNT alega que igualou a proposta dos rivais e que, com base em uma cláusula, tinha o direito de continuar transmitindo a liga simplesmente comunicando à NBA sobre o seu interesse. A partir daí, bastaria depositar o valor equivalente à oferta da concorrência.

A empresa anunciou que vai à Justiça para recorrer. Ela poderá até colocar um batalhão de advogados na causa. Mas cada um deles sabe, tanto quanto os executivos da TNT, que o futuro da NBA está nas mãos das grandes empresas de streaming.

Fim da linha para as redes locais

Na semana passada, o Portland Trail Blazers anunciou que está rescindindo com a ROOT Sports, a rede local que transmitia seus jogos desde 2021. A decisão, tomada a um ano do fim do contrato, segue uma tendência recente de franquias da NBA. Cada vez mais, elas vão abandonando as redes locais de transmissão, e buscando alternativas para atingir um público maior via streaming ou opções over-the-air, gratuitas. Phoenix Suns e Utah Jazz também já fizeram o mesmo, e o Pelicans deve imitar os coirmãos em breve.

A situação das transmissões locais vem bastante confusa desde que o Diamond Sports Group, que geria as redes locais Bally Sports, entrou com um pedido de falência, em 2023. Desde então, o conglomerado garantiu uma sobrevida graças a um acordo costurado, no início de 2024, pela…

… sim, pela Amazon.

A gigante reuniu credores, arquitetou um plano de resgate que assegurou liquidez suficiente para que o canal mantivesse as operações em andamento. Em troca, tornou-se acionista minoritária do grupo Diamond e sua parceira primária de streaming, incluindo em seu cardápio jogos de mais de 40 franquias da MLB, NBA e NHL.

Planos mudam…

No fim de agosto, entretanto, o Sports Business Journal revelou que a Amazon desistiu de investir os $115 milhões que havia prometido no tal plano de resgate. A reportagem ressalta que o investimento da Amazon esteve desde sempre condicionado à recuperação judicial do grupo, o que ainda não aconteceu. Nenhum dos conglomerados se pronunciou a esse respeito.

Na avaliação de muitos executivos da indústria, a Amazon enxergou no Diamond uma oportunidade de baixíssimo risco, que lhe permitiu a) incluir, de imediato, jogos da NBA no seu cardápio; b) um olhar privilegiado sobre toda a operação estabelecida do grupo, que transmite jogos de 34 times entre MLB (12), NBA (13) e NHL (9).

Segundo o consultor de mídia Patrick Crakes, em entrevista ao The Athletic, houve uma certa frustração com tamanho do retorno possível com aquele negócio. “[…] Não posso dizer que [o investimento] não seja relevante… 100 milhões de dólares são 100 milhões de dólares. Mas isso não vai interromper o plano de sair da falência”.

… mas o rio só corre para o mar

No geral, há otimismo quanto à possibilidade da empresa continuar com a sua operação. No plano de negócios apresentado aos credores, o custo previsto era de $1,94 bi, enquanto a expectativa de receita, sem contar com o streaming, passava de $2,07 bi.

“Foi algo tipo ‘O que estamos fazendo aqui? Parece que a Diamond vai sair dessa. Eles vão se estabilizar. Eles poderiam administrar esse negócio por um tempo”, disse Crakes. Para outro executivo que falou sob condição de anonimato, o acordo de transmissão com a liga pode ter alterado o ponto da situação. “Eles conseguiram o acordo com a NBA e disseram: ‘Por que precisamos disso?’”

E quando o grupo Diamond estiver novamente de pé… adivinha quem continuará sendo sua “parceira primária de streaming”?

Sim, você sabe quem.

“Aquele acordo [de streaming] ainda poderá ser feito, separadamente”, prevê Crakes.

Enquanto o processo de recuperação judicial caminha, o grupo chegou a um acordo com a NBA (e com a NHL), e confirmou que vai operar durante toda a temporada 24/25, deixando apenas de transmitir jogos do Dallas Mavericks e do New Orleans Pelicans.

Jeff Bezos está só começando?

Depois de salvar as emissoras locais para absorvê-las em sua programação, quebrando um galho considerável para a NBA e seu comissário Adam Silver, a Amazon amplia seus poderes e passa a oferecer o melhor do basquete entre suas opções de entretenimento.

Mas esses podem ter sido apenas os primeiros atos de um homem cuja obscena fortuna está avaliada em mais de $ 170 bilhões.

Na edição desta semana de seu podcast, o jornalista Bill Simmons, do The Ringer, revelou que Bezos pode estar entre os favoritos a comprar o Boston Celtics. Hoje, o atual campeão da NBA é uma franquia cujo dono espera vender por cerca de $ 4,7 bilhões. Apesar de nos assustar, são meros trocados para o empresário, que poderia entrar na liga para desafiar toda e qualquer regra financeira.

(Pelo menos a nação celta poderia ficar tranquila quanto à continuidade do elenco campeão, uma das reuniões mais caras de atletas em todos os tempos).

O acordo de TV da NBA afeta o Brasil?

Por enquanto, não há muitos detalhes sobre como essa movimentação toda impacta os direitos de transmissão internacionais da liga. Mas, com o protagonismo mantido pela Walt Disney Company nesse novo contrato, o palpite deste escriba, indica que a ESPN deverá continuar sendo a principal casa da NBA no país. Mas não se iluda: dividindo cada vez mais esse lugar com a Amazon.

A gigante nos últimos anos investiu na produção de programas e podcasts sobre basquete e NBA. E não é só isso: vem contratando vários profissionais e comentaristas de trajetórias ligadas ao esporte, como o narrador Rômulo Mendonça e a comentarista Alana Ambrósio.

Inclusive, dona Amazon, se precisar de mais analistas pra esses próximos anos… chama na DM!


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